Na conferência anual da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), vários intervenientes identificaram um grande problema em Portugal – a falta de poupança. A taxa de poupança dos portugueses está a diminuir consistentemente desde o início do milénio, com excepção dos anos de crise, o que não deixa de ser um sinal da elevada iliteracia financeira.
No ano 2000, a taxa de poupança das famílias situava-se nos 12,4%, valor que decresceu para apenas 5,9% do rendimento disponível no segundo trimestre de 2022.
Os dados mostram que quando a economia está em expansão os portugueses gastam mais, potenciando desequilíbrios nas contas públicas, mais especificamente nas contas externas, o que se traduz em crises futuras. Quando a economia está em recessão, o nível de poupança aumenta drasticamente e o consumo trava a fundo, contribuindo para recessões mais fortes.
Na realidade, não é muito diferente do que se passa com os mercados financeiros, onde o medo e a ganância vão alternando entre si.
Mas importa entender a importância da poupança na economia. Para além de financiar o investimento sem recurso a endividamento externo, um elevado nível de poupança está associado a segurança, desenvolvimento económico dos agentes, maior estabilizador emocional, uma vez que permite ter a liberdade de escolha em decisões-chave durante a vida.
O nível de stress que será colocado sobre as famílias durante 2023 e 2024, devido à subida dos juros e da inflação, será inversamente proporcional ao nível de poupança. Ou seja, quanto maior a poupança acumulada menor será o nível de stress e vice versa.
Esta pressão sobre as famílias deverá servir, sobretudo, como aprendizagem a uma necessária alteração de hábitos de investimento, invertendo o ciclo que temos vivido – poupar em períodos de expansão, consumindo menos, aumentando a margem para os momentos de constrangimento orçamental.
Mas para que tal aconteça é necessário que as famílias entendam como podem olhar para o longo prazo e o que isso significa para além da espuma do dia-a-dia.
Neste momento, menos de metade dos portugueses está preocupado com a reforma, quando já sabemos que a primeira pensão equivalerá a menos de metade do último salário, não num prazo muito longínquo. Ou seja, olhando para o salário médio dos portugueses, cerca de 1.326 euros, um pensionista irá receber uma reforma inferior a 700 euros!
Tendo conhecimento deste facto, uma das principais preocupações dos portugueses deveria ser como garantir a manutenção da capacidade de poder de compra, num período de vida mais frágil, seja pelo aumento dos gastos com a saúde, seja pela menor capacidade de gerar rendimento.
É necessário promover o ensino junto dos mais novos, mas sobretudo da população em idade adulta, que, ouvindo números, não consegue entender o impacto na sua vida. Mais do que identificar um problema há que agir, educar e não fomentar o consumo que apenas leva à cobrança antecipada de impostos, sem garantia de protecção do poder de compra pelo Estado.
Iniciativas como o “todoscontam”, ou a introdução de disciplinas na escola que ensinem a gestão e investimento das poupanças, devem ser o motor de uma mudança de atitude perante o futuro. A manter-se esta tendência de decréscimo da poupança, espera-nos uma sociedade mais desigual e insegura a todos os níveis.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.