O drama nos bancos regionais americanos continua e não dá sinais de tréguas. A um passo de ser intervencionado está o PacWest Bancorp, que, outrora com uma capitalização em bolsa de cinco mil milhões de dólares, vale hoje pouco mais de 500 milhões, ou seja um décimo.

Estas fortes perdas dos investidores estão a alastrar às pequenas instituições bancárias que se vêem forçadas a tomar medidas de emergência para sobreviverem. A preocupação já não é ajudar as suas comunidades ou regiões, ou criar valor para os accionistas.

Os mais recentes dados acerca da concessão de crédito à economia revelam uma forte contracção de crédito, indicando que estas instituições se estão a proteger não apenas do risco futuro de incumprimento, mas sobretudo a proteger-se dos seus clientes ao preservar liquidez da própria instituição.

Os depósitos são a matéria-prima de um banco, que depois podem ser convertidos em empréstimos, os quais, por sua vez, podem transformar-se em outros depósitos, na mesma ou noutra instituição, e assim por diante. É o sistema fracional de criação de dinheiro que funciona se todos os agentes pagarem, ou seja, se cumprirem com as suas obrigações, e desde que os depositantes mantenham a confiança nas instituições.

Ora, o problema, para além da confiança, é a alternativa de investimento. A taxa média dos depósitos nos EUA ainda está abaixo de 1%, quando a taxa da Reserva Federal (Fed) está nos 5%. Este diferencial, superior a 4% continua a drenar recursos das entidades bancárias, que vêem sair o dinheiro sem que possam fazer muito. E a razão pela qual estão de mãos atadas é que concentraram parte substancial dos seus investimentos naquele que seria o ativo mais seguro do mundo, as obrigações americanas de médio e de longo prazo quando as taxas de juro estavam baixas.

Esta decisão de investimento e de risco foi suportada na estabilidade histórica dos depósitos. Nunca ninguém pensou que pudesse ocorrer uma debandada geral para os fundos de obrigações ou para o mercado monetário.

O mesmo princípio esteve na base da crise imobiliária em 2008. Historicamente, o preço do imobiliário subia e, por isso, era perfeitamente seguro emprestar dinheiro tendo um imóvel como colateral, até ao dia em que o preço das casas começou a baixar e o valor dos empréstimos passou a ser superior ao valor da casa.

Este cenário tem a agravante que, ao contrário de um imóvel, o dinheiro pode sair dos pequenos bancos em dias, horas ou segundos. Tudo é muito mais rápido, e o banco central está a descobrir isso.

Regressando ao PacWest, numa semana, a instituição perdeu 9,5% dos seus depósitos. Já no primeiro trimestre o banco tinha perdido 16,9% dos seus depósitos, no que constitui um forte constrangimento à normal actividade de qualquer instituição.

A Fed terá de avaliar muito bem a sua actuação, seja pelo incentivo à fusão das instituições, tal como aconteceu com as Caixas espanholas, seja pela garantia de depósitos dos americanos, sob pena de ser uma bola de neve sobre o sector financeiro. Afinal, uma formiga não tem muito poder, mas muitas formigas podem criar um problema global ao sistema financeiro, motivo pelo qual a evolução dos juros vai ser crucial para o alívio desta pressão sobre os bancos regionais americanos, mas ao qual os europeus não estão imunes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.