Portugal e Marrocos voltaram hoje a falar sobre a construção de uma interligação elétrica entre os dois países, um tema lançado há sete anos, mas que desapareceu da discussão pública e voltou a emergir esta semana na reunião de alto nível entre as duas nações atlânticas.
“Portugal e Marrocos podem dar uma contribuição decisiva para acelerar o desafio de transição energética. Onde os recursos naturais que os países dispõem nos dão uma vantagem face à anterior era energética onde carecíamos de recursos naturais fundamentais”, disse hoje o primeiro-ministro no final da XIV Reunião de Alto Nível entre os dois países que teve lugar em Lisboa.
“Hoje podemos desenvolver em conjunto aproveitando o potencial do solar e do eólico, a capacidade técnica de produzirmos em conjunto energias verdes e hidrogénio e partilharmos a energia que uns e outros produzimos através da construção de uma interconexão elétrica entre os nossos países”, acrescentou António Costa.
Isto vai “permitir reforçar a segurança energética de uns e outros e reforçar a nossa estratégia geopolítica no quadro do Atlântico. Esta parceria estratégica será melhor forma olhar futuro amplo horizonte que 250 anos de paz contratualizada servem como garantia de segurança e confiança entre todos”.
Por sua vez, o seu homólogo marroquino Aziz Akhannouch também abordou os “projetos futuristas” como o “projeto de ligação elétrica entre os dois países” e no “domínio da energia renovável e projetos de hidrogénio verde”.
O ministério do Ambiente e da Ação Climática já tinha avançado ao JE que este tema iria estar em cima da mesa durante o encontro que teve lugar esta sexta-feira, 12 de maio. “Pela relevância desta interligação, os dois países irão atualizar os estudos técnicos existentes, tendo em conta os objetivos nacionais na área da energia e a alteração do contexto geopolítico resultante da invasão da Ucrânia pela Rússia”, segundo fonte oficial da Rua do Século.
Esta interligação tinha um custo estimado de 600 a 700 milhões de euros, a dividir por Portugal e Marrocos, com uma capacidade para 1.000 megawatts (MW).
A REN e a sua homóloga marroquina (ONEE) promoveram a realização de um estudo técnico-económico. A sua apresentação chegou a estar prevista para 2019, primeiro, e depois para 2020, mas nunca foram divulgadas as conclusões do estudo.
A autoestrada submarina de eletricidade tinha uma extensão prevista de 250 quilómetros entre o Algarve e a costa marroquina, com a criação de subestações nos dois lados do Atlântico.
Em maio de 2018, a REN anunciava que tinha 400 milhões de euros para realizar novos investimentos até 2021, com o cabo submarino com o norte de África a figurar entre os seus projetos.
Mais tarde, em maio de 2021, a REN não tinha novidades sobre o projeto, mas destacou a sua importância. “Apesar de não haver planos concretos o tema mantém-se atual e alvo de conversas na medida que esta interconexão aumentaria a redundância dos sistemas energéticos dos dois países e seria benéfico em termos económicos e financeiros para Marrocos e Portugal”, destaca a empresa liderada por Rodrigo Costa.
Em setembro de 2019, o então secretário de Estado da Energia, João Galamba, dizia que o cabo submarino não iria avançar se a questã da eletricidade poluente produzida em Marrocos não fosse resolvida.
Questionada pelo JE sobre o reaparecimento deste projeto, a REN não quis fazer comentários.
O projeto volta a emergir depois de em 2022 ter sido noticiada a construção de um cabo submarino entre o Reino Unido e Marrocos com 3.800 kms com o objetivo de fornecer eletricidade a sete milhões de famílias britânicas em 2030, 7,5% da eletricidade total consumida no país.
A britânica Xlinks pretende construir o cabo, assim com 10,5 gigawatts de energias renováveis e 20GWh de armazenamento em bateria, a partir de 12 milhões de painéis solares e 530 centrais eólicas numa área de 960 kms2 de deserto. O projeto tem um custo estimado de 18 mil milhões de libras e fica localizado na região de Guelmim-Oued Noun, cuja capital é Guelmim.
O cabo submarino vai subir a costa marroquina para depois passar ao largo de Portugal, norte de Espanha, França e depois entra no Reino Unido na costa sudoeste.
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