À hora que este texto for lido já terá havido mais um episódio da série mais seguida dos últimos tempos: vai a Reserva Federal (Fed) subir de novo a taxa de juro? Hoje, na véspera da decisão, a probabilidade é de 92% que não o faça, mas era de 79% há um dia e 84,5% há um mês – ou seja, é como os interruptores, umas vezes para cima, outras para baixo. Não iremos, portanto, ter uma subida da taxa de juro agora, mas isso não quer dizer que não a tenhamos até ao fim do ano.

Numa consulta feita pela Reuters, um terço dos economistas espera que depois desta pausa, que acontecerá pela primeira vez desde março de 2022, haja pelo menos mais uma subida este ano.

Relembre-se que a taxa de juro está ao nível mais alto desde 2007 e a subida foi a mais agressiva desde os anos 80. E estamos num momento em que tem ainda mais importância o que se vai dizer na conferência após a decisão e será apresentado o Summary of Economic Projections. Irão brilhar os tradutores do Fedspeak, o dialeto falado in loco, uma espécie de rogorongó dos tempos modernos.

O que se passar é importante porque a Fed é de facto o farol que guia a política monetária e cambial internacional. Ora, a vida não está fácil para Powell & Cia, entalados entre um sistema bancário agitado (em três anos fecharam 6100 agências, para não falar dos três bancos que foram ao tapete) e um credit crunch imposto pelo custo do capital, que recomendam uma política monetária easy, e uma inflação que resiste ainda e sempre ao invasor, e que aponta no sentido contrário. “Damn if you do, damn if you don’t”.

Para já, a inflação ganha; com efeito, o desemprego continua historicamente baixo, a 3,7%, e se o IPC em maio crescia 4%, a taxa core (sem alimentares e energia) ainda estava em 5,3%, muito acima do objetivo. Portanto, o trabalho ainda não acabou, e vamos ter a repetição do que se passou no Canadá e na Austrália, onde os bancos centrais voltaram a subir taxas depois de terem feito uma pausa.

Wall Street, por outro lado, agradece a pausa, que dá mais um empurrão ao mercado: o S&P 500 já subiu 12% desde o início do ano, embora fortemente concentrado nas empresas grandes cujas estratégias envolvem a inteligência artificial: a Nvidia está a subir mais de 160% desde o início do ano, a Microsoft mais de 35%, a Meta 120%. AI faz vender, uma repetição do que aconteceu na viragem do milénio – a Purdue University estima que as empresas que juntaram ‘.com’, ‘.net’ ou ‘Internet’ ao nome ganharam em média 74% nos dez dias após o anúncio.

Mas à medida que o cenário de recessão nos EUA se vai dissipando, os ganhos generalizam-se: o S&P SmallCap 600 caiu 2% em maio, quando o Nasdaq 100 subiu 8%, mas em junho ganhou 8% contra 0 do Nasdaq.

Winston Churchill disse “I always avoid prophesying beforehand because it is much better to prophesy after the event has already taken place.” Estamos num destes momentos.