Volvidos cinco anos sobre a exposição que provocou um primeiro encontro entre Alberto Giacometti e Rui Chafes na Fondation Gulbenkian em Paris, a sede da Fundação em Lisboa, acolhe um novo encontro, onde os artistas estão unidos pelas mesmas palavras — Gris, Vide, Cris —, num espaço maior, diferente e com mais obras.
As três palavras que dão título à exposição, “Gris, Vide, Cris”, que ocupa a Galeria do Piso Inferior da Gulbenkian, em Lisboa, foram retiradas de um poema de Alberto Giacometti e serviram como premissa para “interrogar o sentido deste ato de juntar dois artistas que nunca se cruzaram – Rui Chafes nasceu em 1966, ano da morte de Giacometti, não havendo elementos biográficos ou históricos que os aproximem de forma a criarmos um diálogo. Como tal, esta exposição foi concebida como um encontro”, lê-se na apresentação da exposição no site da Fundação.
Ambos anseiam atingir a imaterialidade e a transcendência e representar o invisível, embora o façam de formas distintas: Giacometti a partir de um trabalho de desmaterialização exasperada; Rui Chafes desafiando os limites do ferro e da imponderabilidade.
Se um dado constante no percurso de Chafes é a importância dos títulos das obras e das exposições/instalações que faz – como “sonho”, “morte”, “manhã”, “ferida”, entre outras – o trabalho sobre o lugar da escultura também o é. Chafes realiza esculturas de chão, de teto, que ocupam cantos de salas ou se imaginam empoleiradas em árvores, como pássaros.
O artista português nascido em 1966, ano da morte de Giacometti, formou-se em Escultura na Escola de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (1984-1989), e na Alemanha, onde frequenta a Kunstakademie (Dusseldorf). A busca pelo depuramento formal resulta na conceção, em 1989, das primeiras esculturas em ferro pintado de negro, escolha que irá marcar o seu percurso disciplinar enquanto escultor. As suas pesquisas centram-se na relação entre razão e emoção, no questionamento da dicotomia ausência/presença do corpo e na reflexão acerca do lugar da escultura e das inter-relações entre obra, espaço e observador, daí emergindo trabalhos marcados por uma forte componente orgânica e solidez formal.
Em 2000, apresentou a grande exposição “Durante o fim” em Sintra, no Museu de Arte Moderna Colecção Berardo, Palácio Nacional da Pena e Parque Histórico da Pena; em 2001 expôs individualmente no Stedelijk Museum voor Actuele Kuns, em Gent; com Vera Mantero realiza o projeto “Comer o coração”, que representa Portugal na Bienal de São Paulo de 2004, sendo apresentado no Centro Cultural de Belém, Lisboa, em 2005.
Em 2015 recebeu o Prémio Pessoa, atribuído pelo jornal “Expresso”. Em 2021 recebeu o Prémio AICA. Em 2022 realizou uma exposição com Pedro Costa e Paulo Nozolino no Centre Pompidou, em Paris, e uma exposição individual no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto.
E como se concretiza este “encontro” Gris, Vide, Cris? Citando a curadora Helena de Freitas, “o corpo nas suas infinitas possibilidades é o centro da exposição, os corpos criados, os corpos dos visitantes e o espaço que existe entre eles”.
E assim introduzimos Alberto Giacometti, escultor suíço nascido em 1901, em Borgonovo, que inicia a sua formação em Genebra, deslocando-se em 1923 para Paris. O existencialismo na sua obra traduz-se numa repetição dos meios expressivos e gestos formais, que imprimem à figura humana uma significação fundamental: uma linha vertical confrontando com a horizontalidade do mundo.
A deformação dramática das proporções, o alongamento das formas e a manipulação da superfície e da textura acentuam a materialidade dos objetos e a capacidade expressiva e poética da obra de arte. As personagens, essas, exprimem um sentido de individualismo e de descontextualização, acentuado pela própria escala das esculturas.
Regressando, de novo, às palavras de Helena de Freitas, “raras vezes somos surpreendidos por uma experiência artística tão intensa, onde são colocadas de modo estruturante, não ilustrativo e em diálogo exclusivo com a matéria artística, mudanças fundamentais do paradigma estético e ético, que hoje sobressaltam o mundo das artes”.
“Sustentado numa conversa muito antiga que tem sabido continuar com os seus pares (Alberto Giacometti, entre outros), Rui Chafes mantém aceso e desassossegado o questionamento da arte e da sua função no mundo contemporâneo”. Desassossego é o que importa nutrir na visita a esta exposição.
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