Grande parte dos filmes da minha infância retratavam princesas subjugadas ao poder e à maldade de alguém. Entretanto, acabavam felizes, vivendo dependentes do seu príncipe encantado. Viviam num castelo, com promessas de felicidade eterna, mas, na verdade, nunca vimos como era a sua vida após o “final feliz”.
Nos últimos anos, as princesas evoluíram para meninas e mulheres emancipadas que seguem os seus sonhos e ambições, dando forma a uma mensagem de igualdade de género. São exemplos disso alguns filmes animados como “Mulan”, “Brave”, “Moana” e “Turning Red” (filmes a que assisto regularmente com os meus filhos – ele de seis anos, ela de quatro).
Mas será suficiente?
O último relatório de igualdade de género em Portugal (Boletim Estatístico da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), realizado em 2021) demonstra que há mais mulheres a terminar o Ensino Superior (58%). Contudo, esta tendência não se reflete nos cargos de tomada de decisão representados por mulheres. Nos diferentes sectores, público e privado, as mulheres assumem cargos de liderança de aproximadamente 35%.
Sheryl Sandberg, Chief Operating Officer da Meta Platforms, mais conhecida por Facebook, no seu livro “Lean In”, demonstra que atualmente a grande barreira para as mulheres se encontra na dualidade família vs. carreira.
Ninguém questiona isto a um homem. Por isso, apesar do crescente número de mulheres com curso superior, muitas são as que sentem uma enorme pressão por não conseguir atender a todos os desafios familiares e profissionais. Aos poucos, vão deixando passar as oportunidades e, em muitos casos, condicionam as suas escolhas ainda antes de serem mães, por anteverem os desafios futuros, acabando por limitar a sua progressão profissional e salarial.
Mulheres que desenvolvem a sua carreira sem culpas têm um impacto social enorme, sendo sinónimo de uma população com maior literacia, com melhores salários e, por conseguinte, melhores condições de vida para as gerações futuras. As empresas têm vindo a reconhecer a importância de dar suporte às mulheres dentro de portas, através da criação de comunidades onde se pretende empoderar e apoiar o percurso profissional no feminino.
Literacia Financeira como ferramenta de empoderamento das mulheres
De acordo com o último relatório do Fórum Económico Mundial sobre as diferenças de género a nível global, serão necessários mais 132 anos para atingir finalmente a igualdade de género.
Já segundo o Ministério do Trabalho, em Portugal, a diferença salarial entre homens e mulheres é neste momento de 13,3%, equivalendo a mais de 48 dias por ano em que as mulheres não recebem remuneração pelo seu trabalho – o que revela que há, ainda, um longo caminho a percorrer até à paridade salarial. Esta diferença salarial impacta no stress financeiro que muitas famílias enfrentam diariamente, sobretudo em casais divorciados e famílias monoparentais.
No caso do estudo do CIG, este aponta que todo o trabalho doméstico como refeições, roupas e limpeza era assegurado, em mais de 80%, pelas mulheres. Perante este cenário, como ter tempo para pensar na carreira e em investir? Todos construímos uma família a pensar no “felizes para sempre”, mas quando um divórcio ocorre, para além dos danos emocionais, para ambos, é geralmente a mulher quem sofre os danos financeiros.
Cresci numa família modesta e, por isso, cedo percebi que a vida é feita de opções. Na altura, eram opções que envolviam dinheiro. Hoje, com algum conforto financeiro, as minhas escolhas baseiam-se no que quero fazer com o meu tempo, tendo por base onde quero estar nos próximos cinco anos com as decisões que tomo hoje. Dadas as urgências do quotidiano, estamos focados no chão e esquecemo-nos de olhar para o horizonte.
Posso não ter o castelo limpo, como seria suposto as princesas terem. Mas eu não quero ser uma princesa, nem tão pouco sonho com um príncipe salvador. Até porque, para trabalharmos na nossa carreira, necessitamos de tempo e de momentos de silêncio e tal só se consegue quando também os homens que fazem parte da nossa vida pessoal e profissional têm essa consciência e, dessa forma, nos ajudam a desbravar caminho.
Aprender sobre dinheiro e como o pôr a trabalhar para nós está intrinsecamente ligado ao nosso mindset de investir na carreira. Ninguém nos ensina como poupar ou investir. Só nos ensinam a ser bons pagadores ou gastadores; quando percebemos que o dinheiro não serve apenas para gastar, mas que constitui um passaporte para várias liberdades, os nossos horizontes expandem-se e começa assim a jornada pela Liberdade Financeira.
Esta autonomia só será possível se investirmos na Educação Financeira das mulheres e percebermos o seu real impacto. A Literacia Financeira no feminino pode assumir um papel verdadeiramente empoderador. Assim, será possível abdicarmos de limpar o castelo, no sentido de nos dedicarmos a trocar ideias e a aprender, para que cada dia seja um final feliz.
A autora do artigo é mentora da página @patricia.finance.pt, dedicada à Educação Financeira para casais e famílias