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Para onde caminha a mobilidade em Portugal? Empresas defendem uso do mix energético

O Jornal Económico falou com a Eco-Oil, Associação de Bionergia Avançada e Statkraft para perceber qual a opinião destas empresas em relação ao rumo da mobilidade em Portugal. Numa altura em que a aposta se diversifica (com autocarros a hidrogénio e carros elétricos) e o automóvel voltou a ser o meio mais usado, podem as energias verdes ser o futuro para a descarbonização do sector?
28 Junho 2023, 14h58

Num momento em que se fala de altera do aumento dos esforços para atingir a neutralidade carbónica até 2030 e melhorar o outlook para 2050, o Jornal Económico foi perceber, junto de algumas empresas que atuam em território nacional, em que sentido caminha o sector da mobilidade em Portugal, sendo este um dos que mais contribui com gases de efeito de estufa (GEE).

Sobre as vantagens das ditas energias verdes para o ambiente, o diretor de desenvolvimento de negócio da Statkraft em Portugal, João Schmidt, defende que estas “são a chave para a transição energético de que a nossa sociedade necessita”. João Schmidt sustenta que as energias verdes são “a solução para a emergência climática” porque “a produção com energias renováveis não emite dióxido de carbono”.

Esta opinião é partilhada por Ana Calhôa, secretária-geral da Associação de Bionergia Avançada (ABA), e por Nuno Matos, diretor-geral da Eco-Oil. Ana Calhôa lembra que “estas energias reduzem de forma significativa as emissões de gases poluentes para a atmosfera quando utilizadas nos motores a combustão”, referindo-se ao uso de biocombustíveis produzidos por resíduos ou outras fontes. O diretor-geral da Eco-Oil aponta que o uso das energias amigas do ambiente “contribuem para a redução de emissões de GEE para a atmosfera, já que os componentes tóxicos são reduzidos ou mesmo inexistentes”, sendo que os biocombustíveis “permitem ampliar todo o potencial de utilização do recurso e não apenas a sua valorização energética”

A responsável pela ABA sustenta ainda que os biocombustíveis produzidos através de resíduos têm um potencial enorme para o futuro, uma vez que “emitem cerca de 84% menos de CO2 e outros produzidos com matérias avançadas podem mesmo reduzir em 96% essa emissão”. Estes dados acabam por ser corroborados pela Eco-Oil, com Nuno Matos a referir que “quando se reintroduz um combustível produzido exclusivamente a partir de resíduos, estamos a substituir integralmente o consumo de um combustível fóssil”. “Com isso está a reforçada a economia circular sem prejudicar o ambiente e os recursos naturais”.

Mas, ao existirem pontos positivos com a utilização das energias ‘verdes’ também existem negativos, porque cada moeda tem duas faces. “Qualquer ação humana tem pontos menos positivos e, nesse sentido, as energias renováveis não são exceção”, conta o diretor da produtora de energia hidroelétrica. Nuno Matos concorda e admite ainda existir um “caminho a percorrer e obstáculos a ultrapassar”.

“A mudança está dependente de diferentes fatores, entre os quais o quadro legal que desempenha um papel importante. Por um lado, deve estar cada vez mais alinhado com boas práticas e casos de sucesso; por outro, é preciso ter em consideração o panorama local para que esta transição seja feita de forma correta e gradual, ao invés de ser um choque”, aponta Ana Calhôa. Perante isto, a secretária da ABA adianta que é importante acelerar as medidas europeias e a implementação de “quadros de incentivos mais apelativos” mas também “investir na educação e informação dos consumidores”. “É preciso apoiar todos os envolvidos na cadeia de valor destas energias para conseguir acelerar o posicionamento competitivo de Portugal neste âmbito”, concorda Nuno Matos.

Abordando então a mobilidade em pleno, e num momento em que o automóvel voltou a ser o principal meio de transporte dos cidadãos portugueses pós-pandemia, os empresários assumem ser possível tornar os transportes rodoviários mais sustentáveis sem abdicar dos mesmos. Nuno e João concordam: troca por veículos mais eficientes, sejam eles híbridos ou elétricos, ainda que esta não seja a única solução.

“O comportamento de cada cidadão pode e muito contribuir para a utilização mais eficiente do automóvel”, sustenta o diretor da Eco-Oil, passando por um estilo de condução menos agressivo ou melhor planeamento de estratégia. Ana Calhôa lembra ainda que o uso de biocombustíveis é também uma estratégia para limitar a pegada dos automóveis, uma vez que pode ser aplicada de forma imediata em qualquer veículo em circulação, o que contribui para a descarbonização.

Mas Nuno Matos vai mais além. “O papel principal está reservado ao Estado e ao incentivo à incorporação de combustíveis avançados, produzidos a partir de resíduos, nos combustíveis tradicionais”, algo que permite reduzir as emissões e também o impacto negativo da utilização dos veículos a combustão.

Qual a melhor aposta para os transportes coletivos das cidades?

As ruas de Cascais contam com um autocarro movido a hidrogénio, uma tecnologia ainda pouco usada em Portugal, enquanto a Carris está a apostar numa frota mais diversa, com autocarros a gás natural comprimido, elétricos e hidrogénio. Mas de que forma esta é a melhor solução para o transporte coletivo das cidades?

A secretária-geral da ABA sustenta que “a melhor solução para uma mobilidade sustentável passa pelo mix energético”. “Cada energia verde tem o seu papel na redução das emissões de GEE, logo, é importante que todas sejam disponibilizadas de forma generalizada e acessível, fazendo destas a primeira escolha dos consumidores e dos grandes detentores de frotas rodoviárias na hora de abastecerem o seu veículo”, indica ao JE.

Mas esta opinião não é partilhada pelo diretor da Eco-Oil. Nuno Matos confessa que a solução para o “transporte coletivo em Lisboa está condicionado por vários fatores, incluindo a disponibilidade da infraestrutura de abastecimento, o custo de investimento nos equipamentos, a maturidade da tecnologia e a sustentabilidade”, notando não estar convencido que o elétrico e hidrogénio seja “no imediato a solução mais interessante”.

“A utilização destes veículos requer grande capacidade de investimento, quer no próprio veículo, quer na infraestrutura de abastecimento. Nos veículos elétricos é ainda necessário considerar os tempos de imobilização, para carregamento, o que pode criar pressão na gestão logística das carreiras. É inegável que os veículos elétricos ou a hidrogénio têm vantagens significativas em termos de redução de emissões e poluição do ar, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas como Lisboa, e será desejável que venham a ser no futuro a opção principal”, considera, adicionando que, para o momento atual, o gás natural comprimido, pela facilidade de transformação, é a solução com mais futuro.

O diretor de desenvolvimento da Statkraft em Portugal lembra, relativamente a Cascais, que o “hidrogénio verde pode desempenhar um papel importante na descarbonização dos transportes pesados, nomeadamente os de transportes de passageiros”.

Por este tipo de combustível emitir apenas vapor de água, “torna-os numa alternativa bastante vantajosa quando comparada com os motores de combustão que queimam combustíveis fósseis e emitem GEE”. No entanto, João Schmidt atira que o desenvolvimento das energias renováveis é “fundamental para assegurar que a produção de hidrogénio é realmente sustentável – trata-se de um processo altamente exigente a nível de recursos – e conseguir uma transição energética bem sucedida”.

“A disponibilidade de uma infraestrutura de abastecimento, a segurança do armazenamento e o custo dos veículos são obstáculos importantes no momento de decidir pelo hidrogénio, sendo necessário que o compromisso dos municípios com a transição energética se faça com veículos mais sustentáveis, independentemente da tecnologia escolhida”, refere Nuno Matos.

O gestor da Eco-Oil não esquece que “os recursos em Portugal são limitados” e que “existem lacunas visíveis na qualidade dos serviços públicos, com consumidores cada vez mais vocais a exigir a melhora do serviço, sobretudo ao nível da frequência”.

No passo seguinte, a opinião do diretor da Eco-Oil e da secretária-geral da ABA coincide: a incorporação de biocombustíveis.

“Os municípios podem continuar a fazer o seu caminho ao nível da transição energética e redução de emissões, mantendo a frota existente, simplesmente através do aumento de incorporação de combustíveis avançados derivados de resíduos. Existem no país bons exemplos desta prática com ganhos significativos no balanço global das emissões”, sustenta Nuno Matos.

Ana Calhôa relembra que já existem alternativas mais sustentáveis em utilização e que o acesso a estas deve ser generalizado.

“Os biocombustíveis líquidos podem ser usados sem necessidade de alterar qualquer componente nas infraestruturas industriais” e que ao investir nesta mudança, a cadeia de produção começa a ficar neutra em carbono.

“Tendo em vista as metas e diretivas a cumprir para reduzir as emissões poluentes nas próximas décadas, é importante que a indústria invista na sua transformação energética, para, assim, impactar positivamente a redução de emissões poluentes na sua atividade”, lança Ana Calhôa como recado aos players do sector.

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