Durante os últimos 20 anos os temas climáticos e ambientais eram trabalhados pelos profissionais da engenharia do ambiente. Os economistas, gestores e financeiros não consideravam os temas ambientais como algo que pudesse impactar financeiramente a empresa, uma vez que a teoria económica – a das externalidades
– argumentava que tal nunca iria acontecer, e que o mercado encontraria forma desses impactes serem momentâneos e não significativos.

No entanto a teoria estava errada! A teoria económica “das externalidades” argumenta que: a) quando um recurso escasseia e o seu preço aumento, o produto final que usa esse recurso aumenta também o seu preço de venda, o consumidor vais assim comprar menos quantidade, a empresa vai produzir menos, o tal recurso vai ser menos pressionado e a sua disponibilidade volta a existir; b) quando uma empresa polui será sujeita a um imposto sobre a poluição que a faz produzir menos e ser menos poluente usando a lógica anterior, ou esse custo adicional torna um investimento em nova tecnologia (e menos poluidora) mais atraente.

Como podemos constatar, esta teoria não tem aplicação prática efetiva e à escala mundial. Exemplo disso são as alterações climáticas decorrentes da atividade económica.

Uma vez que as alterações climática são reconhecidas por mais de 99% dos cientistas, e que o mundo tem presenciado uma série de desastres naturais incontroláveis pelo ser humano e com perdas económicas significativas, então o G20 começou a questionar se as alterações climáticas poderiam vir a ser origem de riscos sistémicos a nível económico e financeiro. Como resultado desta “pergunta”, em 2017 o Financial Stability Board estudou o tema com vários outros players de mercado, e publicou as chamadas “Recomendações da TCFD – task force for climate related financial disclosures” onde explica a componente financeira e económica dos riscos climáticos, definindo que existem dois tipos de riscos climáticos que podem impactar as empresas – os riscos físicos e riscos de transição – explicando os canais de transmissão entre esses riscos e os respetivos potenciais impactes financeiros nas empresas.

Esta publicação acrescentou assim uma nova etapa para a construção de uma nova teoria económica, em que se reconhece que as alterações climáticas constituem riscos financeiros para as empresas, bancos e países. Se as alterações climáticas podem levar a um risco financeiro, então passa a ser um tema também daquelas instituições que têm como missão contribuir para a estabilidade financeira e económica das sociedades.

Assim, criou-se a Networks for Greening the Financial System (NGFS) que é composta por mais de 100 bancos
centrais, com o objetivo de criar conhecimento para originar metodologias que possam vir a ser aplicadas pelos bancos centrais para que a estabilidade económica possa ser o menos impactada possível pelos riscos climáticos.

A NGFS tem produzido conhecimento que deve ser apreendido por todos aqueles que trabalham em empresas, bancos e que sejam responsáveis por supervisão e regulação. Há trabalhos desenvolvidos pela NGFS que identificam que as alterações climáticas poderão ter um impacte nos preços e no PIB dos países. Algo que, parecendo estranho, até é de “bom senso”: se tivermos cheias, secas, ondas de calor intensas, tal pode impactar a agricultura e os preços dos bens podem subir; e por outro lado os danos criados por estes impactes ambientais podem levar a perdas de valor na economia que se repercutem numa baixa do PIB.

Com base nesta lógica simples mas complexa de análise, a NGFS tem crescido em recursos e tem desenvolvido cenários económicos para 2050 com base nos cenários científicos. Ou seja, tem conseguido desenvolver cenários económicos para 2050 cujo os impactes na inflação e no PIB variam de acordo com o aumento efetivo da temperatura ao nível mundial.

Se as alterações climáticas têm então potencial impacte na inflação, e tendo em conta que o mandato dos Bancos Centrais é a estabilidade de preços, então também estas instituições passam a ter de lidar com este tema, e a desenvolver metodologias que sejam aplicadas pelos bancos para que o risco climático esteja
devidamente acautelado e minimizado no portfólio dos bancos e na economia em geral.

É por isso que estão a decorrer vários trabalhos para se compreender melhor de que forma o risco climático pode ser incluído na supervisão e na política monetária dos bancos centrais. Mais uma área nova da economia onde os recursos humanos são escassos, e onde a oportunidade de carreira a nível (inter)nacional é significativa.