O Fórum do BCE, que reúne os principais bancos centrais em Sintra, ficou marcado por uma
viragem no apoio político às decisões do BCE.

As declarações de Cristine Lagarde, presidente do BCE, de que iria subir os juros novamente em Julho, muito embora já incorporadas pelo mercado financeiro, caíram que nem uma bomba junto do meio político europeu. Não foi só em Portugal que a política agressiva de subida dos juros conseguiu unir o consenso dos diversos quadrantes políticos. Também Itália se juntou ao coro de críticas, com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni a considerar que o BCE está a adoptar uma postura demasiado simplista.

Por outro lado, a Alemanha a defender uma continua subida dos juros como forma de garantir
que a inflação baixa à custa do consumo, num regresso às lutas Norte/Sul da Europa.

Com a taxa de depósitos do BCE a aproximar-se rapidamente dos 4%, os europeus enfrentam o congelamento do acesso a novo crédito principalmente para a compra de habitação. Para tentar evitar o congelamento nos empréstimos em Portugal, a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, veio colocar a hipótese de revisão em baixa do teste de esforço que é pedido às famílias aquando da simulação da prestação do crédito à habitação e que consiste em adicionar 3% à taxa global apurada pela instituição financeira.

Ora se somarmos a taxa Euribor a 12 meses atual, com o spread acordado com o banco, aos 3% sugeridos como teste percebemos rapidamente as famílias vão-se deparar com encargos potenciais de 8% quando o
máximo da Euribor verificado desde o início do Euro foi de 5,505%, em Outubro de 2008. Uma política baseada apenas na restrição do consumo europeu, considerando a globalização da economia, é ditar os europeus a dificuldades e voltar a colocar em cima da mesa os diferendos relativos às vantagens dos países pertencerem ao euro.

Para além deste aspecto a própria subida dos juros é em si inflacionista, quando violenta, como tem sido. Ao subir os juros em 4% em menos de um ano, o BCE está a colocar pressão sobre os custos de financiamento também das empresas que terão mais encargos. Para fazerem face a esse aumento de encargos expressivo, principalmente as empresas que dependem mais do endividamento, aumentam os preços para, pelo menos manterem margens e níveis de segurança financeira para o futuro. Ou seja, a perspectiva de maiores subidas dos juros acaba ela própria por ser inflacionista.

Mas esta subida dos juros tem ainda outra consequência na oferta da habitação já por si escassa. As famílias que pretendam mudar de casa, se simularem novos créditos, tendo em consideração as restrições quanto à taxa de esforço, limite da idade, valorização das casas e teste de esforço de 3%, não conseguem contrair empréstimo o que retira oferta do mercado.

Não é inocente a alteração do discurso do BCE e da FED, que depois de anos a propagarem a mensagem da inflação temporária, vêm agora referir que a inflação é mais permanente. A ajudar à festa, em Portugal temos uma elevada carga fiscal, induzindo à economia paralela, que segundo um estudo da Faculdade de Economia do Porto, está próxima dos 35% em Portugal. Esta economia paralela é também em si indutora do aumento dos custos, pois como já aconteceu a muitos “com factura ou sem” tem um peso substancial no orçamento e volta a estar na moda. A economia oficial está mais cara que a oficiosa e este é um retrocesso somente os governos podem corrigir.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.