A duas semanas da próxima reunião do Open Market Committee da Reserva Federal americana (Fed), a probabilidade de a taxa de juro subir um quarto de ponto é 93%. E, com forte probabilidade haverá ainda outra subida este ano. A culpa é da inflação que, como os gauleses da aldeia, resiste ainda e sempre. Porque teima a inflação em não cair?
Em junho a inflação terá caído para 3,1%, a “previsão de consenso” – se tem senso ou não veremos em breve. Foi 4% em maio, portanto será uma queda importante, a 12ª consecutiva, e o valor mais baixo desde março de 2021. Vamos no bom caminho, porque não estamos mais otimistas?
A acontecer como previsto, a descida dever-se-á sobretudo a há um ano termos tido a taxa mais alta em décadas, 9,1%.
Ou seja, e parafraseando Tibet em “O homem que disparava mais rápido que Lucky Luke” (não é o cowboy que é muito rápido, é a sombra dele que é muito lenta), não é a inflação de junho que é baixa, é a de há um ano que foi alta, a mais alta desde 1981.
Em termos mensais, a previsão é que os preços aumentem 0,3% no mês, o que já não é tão bom, e que a taxa core (exclui os preços mais voláteis, energia e bens alimentares) seja 5%, quando foi 5,3% há um mês. Para comparação, na zona euro foi 6,1% em maio, significativamente mais alta que nos EUA.
Porque estamos ainda aqui, com a política monetária mais dura desde os anos 80 do século passado? A principal razão é por a Fed ter ignorado as subidas iniciais de preços, sustentando que eram temporárias e ter tido receio de matar a recuperação económica no início, e consequentemente ter feito muito pouco, muito tarde, depois de um programa de estímulos económico do Presidente Biden que deu dinheiro aos americanos como se fossem notas do Monopólio.
Bem pode a senhora Boushey, assessora do Presidente, tentar convencer-nos que a culpa da inflação é do Covid, não dos programas de Biden (o de março de 2021, de 1,9 milhões de milhões de dólares). Agora estamos em pleno no pain, no gain. Quanto aos banqueiros centrais, ao ganharem a independência dos governos, perderam a possibilidade de atirar as culpas para os políticos.
Como se não bastasse, no quarto trimestre do ano passado a Fed registou o seu primeiro prejuízo desde 1915, e a coisa vai durar pelo menos até 2026, devido a um balanço que engordou com ativos a juro fixo (bonds e MBS) e passivos a juro variável (repurchase agreements e depósitos dos bancos), o que põe em causa a sua credibilidade e independência.
Nos próximos tempos Powell vai andar muito ocupado.