Se tudo correu como previsto, a Reserva Federal norte-americana (Fed) subiu as taxas de juro um quarto de ponto e o Banco Central Europeu (BCE) acompanhou. Isto porque apesar da mais dura política monetária em décadas, o mercado de trabalho nos EUA não arrefece: os pedidos de desemprego são poucos e abaixo das expectativas e a taxa de desemprego varia entre 3,4% e 3,7% há ano e meio.
Consequentemente, a taxa de inflação tarda a cair para os 2%: após um ano de quedas dos preços de energia e ultrapassados os estrangulamentos de cadeias de produção, é ainda 3% em junho (4% em maio), a mais baixa desde março de 2021, mas a taxa core (sem produtos voláteis) continua elevada, a 4,8%.
A pressão sobre os preços vem agora dos salários (4,4% de aumento em junho), e a Fed não levanta o pé – por causa das expectativas – sem ser claro que a inflação está controlada. Mas podemos estar a ver a última subida dos juros: diz a Bloomberg que Ben Bernanke, ex-governador da Fed, admite um abrandamento da economia e acha possível que tenha terminado o ciclo de subidas. E a economia americana poderá vencer a inflação sem entrar em recessão, o que é extraordinário.
Na Europa as coisas não são tão simples, e o BCE ainda tem trabalho pela frente. A inflação na União Europeia ainda está a 6,4%, 5,5% na zona euro. A tendência está lá, como nos EUA, só que é mais resiliente. Isto quando a zona euro já está em recessão, de acordo com o Eurostat, ou talvez não, segundo o mesmo Eurostat, e a culpa é da Irlanda.
Com efeito, em junho o Eurostat divulgou uma previsão de queda do produto de 0,4% no primeiro trimestre, a segunda consecutiva, logo, uma recessão. A queda dever-se-ia à Irlanda ter uma contração de 4,6% do produto no trimestre, sobretudo devido à queda da produção da indústria farmacêutica em março.
Mas este número foi revisto este mês para uma queda de 2,8%, 9% nos setores dominados por multinacionais, que representam mais de 50% do valor acrescentado. Esta revisão pôs o produto europeu na estagnação, e o tira-teimas será a 31 deste mês, quando a Irlanda terá a estimativa final. Ou seja, depende da Irlanda estarmos em recessão.
Esperemos que o BCE não se deixe levar por este canto. Faz pensar em Mark Twain, no “Life on the Mississipi”, quando diz que o Mississipi fica 2 km mais curto cada ano; então, há um milhão de anos o Mississipi teria 2 milhões de km e daqui a 742 anos Cairo e New Orleans são a mesma cidade. E conclui que a Ciência é uma coisa maravilhosa: consegue-se um enorme rendimento de um pequeno investimento em factos.