A conferência das Nações Unidas sobre a Água, que decorreu em Nova Iorque em Março passado, foi a primeira do género em quase 50 anos, e teve como objetivo mobilizar a ação mundial para a resiliência e a segurança da água, considerada uma questão de importância essencial para a agenda do desenvolvimento sustentável.

O mundo enfrenta atualmente uma crise da água provocada pela procura excessiva, pela má gestão e pelos impactos da tripla crise das alterações climáticas, da perda de biodiversidade e da poluição. Esta crise é fundamentalmente de natureza global e sistémica. Pela primeira vez na história, a atividade e as práticas humanas colocaram o ciclo global da água, do qual depende toda a vida, numa trajetória insustentável.

A ciência tem mostrado como as comunidades e as nações estão hidrologicamente interligadas – não apenas através dos rios e das águas superficiais, mas também através dos fluxos de humidade atmosférica. As práticas numa determinada região têm impacto na precipitação noutras regiões.

A Água, um recurso natural vital, está a ser esgotado, poluído e mal gerido. Sabemos que 40% da população mundial vive em zonas afetadas pelo stress hídrico, que 2,2 mil milhões de pessoas ainda não têm acesso a água potável, que mais de metade da população mundial não tem acesso a saneamento seguro e que 80% das águas residuais do mundo são descarregadas sem tratamento, diretamente no ambiente. A pressão sobre a qualidade e a quantidade de água está a aumentar.

Por outro lado, esta pressão afetará de forma desproporcionada as mulheres, os grupos vulneráveis e marginalizados das comunidades indígenas, os jovens, os agricultores, os trabalhadores e as pequenas e médias empresas, contribuindo para o aumento do risco de conflitos e de instabilidade.

É desejável alcançarmos um futuro sustentável e justo no domínio da água. Para tal, é necessário transformar a economia e reestruturar a sua governação, implementando práticas mais integradas, intersectoriais e ligadas em rede, a nível nacional, regional e mundial.

É neste ponto que a tecnologia tem um papel crucial! Em especial a relacionada com a adaptação às alterações climáticas. O tema da água, nas suas diferentes dimensões, é transversal a toda a sociedade. São necessárias inovações tecnológicas que ajudem a sociedade a se adaptar à nossa nova realidade climática, que decorre principalmente na forma como tratamos os riscos relacionados com a qualidade e quantidade de água.

É importante o apoio e o investimento a startups que apresentem inovações tecnológicas que nos ajudem a adaptarmo-nos a um futuro climático incerto, que ajudem a indústria e a sociedade a ver, compreender e enfrentar a miríade de riscos hídricos induzidos pelas alterações climáticas e que possibilitem o acesso de todos a essa tecnologia, permitindo aplicações na agricultura, aquacultura, edifícios, clima, conservação, indústria e a produção de energia, entre outros.

É importante o apoio e o investimento em startups e empresas com propriedade intelectual ancorada na química, na ciência dos materiais, na genómica, na microbiologia, no diagnóstico e na engenharia de processos, bem como na ciência dos dados, na engenharia informática e nas tecnologias da informação e da comunicação, que desenvolvam inovações na monitorização, no software, na análise, as quais reduzam as barreiras, permitindo que todos, indivíduos, empresas e governos, possam aceder aos dados e ferramentas de que necessitam para minimizar o impacto da nossa realidade hídrica em mudança.

Este é o verdadeiro desafio para os próximos anos!