Dietas da moda, por que surgem?

As dietas da moda são estratégias de perda de peso, com tanto mais mediatismo quanto maior for a velocidade de perda prometida, mas não têm, necessariamente, fundamento científico. São adotadas entusiasticamente pelos seus seguidores, como se se tratasse de uma página de uma rede social; são como uma crença que não se questiona.

Apenas 4% das mulheres em todo o mundo se consideram bonitas e 72% sentem uma enorme pressão para o serem. Na população portuguesa também se apuraram dados preocupantes: cerca de 52% das mulheres adultas com peso normal sentem ter peso excessivo, o que talvez justifique os dados de 2015 que revelam que 44% dos adultos estavam ativamente a tentar controlar o peso, um grande aumento relativamente aos 16% relatados em 2001.

Considerando a gravidade das implicações clínicas do peso excessivo, a crescente consciencialização das pessoas acerca do impacto da nutrição e os ideais de magreza atualmente estabelecidos, está criado o ambiente propício para a moda das dietas e para as dietas da moda.

O que esperar das dietas da moda?

As dietas mais restritivas, em geral, induzem maior redução inicial do peso, mas implicam paralelamente alguns mecanismos metabólicos, endócrinos e comportamentais com potencial impacto no insucesso tardio, sendo que apenas 3% dos portugueses com sucesso no emagrecimento o alcançou por recurso a dietas da moda.

São exemplos de tais mecanismos as alterações hormonais associadas à sensação de saciedade/fome, ao aumento da ingestão alimentar (por vezes acompanhada de compulsividade alimentar) e à redução do gasto energético.

A redução do gasto energético, tanto nas suas funções basais (respiração ou batimentos cardíacos) como na atividade física, ocorre pelo mecanismo de “poupança” de energia como forma de garantir a subsistência do organismo. Este mecanismo é responsável pela crescente dificuldade em perder peso após várias tentativas demasiado restritivas, o que deveria ser suficiente para desincentivar a prática destas dietas.

Adicionalmente, deve ser sublinhada a forma como se obtém a rápida perda de peso. Na maioria das vezes, além de efémera, ela é de má qualidade: perdem-se fluidos e massa magra, ao invés da tão desejada perda de massa gorda. Este facto é comprovado pelos resultados expressivos na balança, sem que tenham o reflexo desejado no volume corporal facilmente verificado na roupa.

Para além da poupança de energia e da desproporcionalidade na perda de massa gorda, há ainda a acrescentar aos efeitos transversais das dietas da moda o facto de serem quase sempre transitórias e, portanto, não contribuírem para aquisição de hábitos alimentares.

Outra característica comum a quase todas as dietas da moda é a restrição total de alimentos ou grupos alimentares, o que as torna nutricionalmente desequilibradas. Os défices de micronutrientes (vitaminas e minerais) resultam em sintomas ligeiros, como dor de cabeça, alteração do humor ou queda de cabelo, mas podem ter implicações mais sérias se persistirem durante mais tempo.

Mais de 90% dos seguidores de dietas da moda experienciam algum tipo de sintoma ou efeito colateral decorrente da dieta:

  • As dietas baseadas na maior restrição de hidratos de carbono (conhecidas como low carb, onde estão incluídas as dietas cetogénicas e paleo) têm sido associadas sobretudo aos défices nutricionais provocados pela restrição dos grupos de alimentos ricos neste nutriente (como fibra, potássio, cálcio, fósforo, magnésio, betacaroteno e vitaminas A, C, E e do complexo B), ao aumento dos riscos de doença cardiovascular, de litíase renal, de osteoporose e de aumento da uricemia.
  • As dietas low fat (onde a dieta de Ornish se destaca) diferenciam-se das low carb, não no resultado da perda de peso, mas sobretudo na qualidade da perda: principalmente sob a forma de massa gorda. Apesar de as estratégias low fat serem tendencialmente compostas por alimentos mais saudáveis e restritas em alimentos associados a doenças crónicas, elas também não estão isentas de défices nutricionais. São frequentes os défices de vitaminas E, B12 e zinco devido ao baixo consumo de carne e gorduras.
  • As dietas de jejum intermitente pretendem alcançar a perda de peso pelo mesmo mecanismo das anteriores: restrição energética. Alguns dos protocolos de jejum têm melhorado a eficiência energética e metabólica, com vantagem no controlo glicémico e na proteção cardiovascular. Mas relativamente ao tão desejado efeito na perda de peso, as estratégias de restrição energética intermitente não são superiores às de restrição energética contínua convencional. Se a condensação da janela horária para ingerir alimentos for uma forma de melhorar a adesão à restrição energética, então a estratégia de jejum intermitente pode ser uma ferramenta útil se garantida a composição nutricional adequada. Os períodos de jejum afiguram-se como seguros, mas a segurança da dieta e os seus impactos clínicos estão intimamente dependentes dos alimentos que a compõem.
  • As dietas líquidas e aclamadas de desintoxicantes, continuam a ser uma solução popular de perda de peso, apesar de não terem suporte científico que as sustente. São estratégias de grande restrição energética, geralmente aplicadas por curtos períodos de tempo, com perda de peso muito expressiva, mas em água e eletrólitos. A manutenção desse peso é, também ela, muito curta, mas o impacto clínico pode ser muito grande. Uma destas estratégias já foi responsável por 60 casos de morte súbita associada a ritmos cardíacos anormais.

Qual o caminho?

É inquestionável que a criação de um balanço energético negativo é condição essencial e imprescindível quando se pretende a perda de peso, sendo que a sua magnitude deve ser, na maioria das vezes, moderada. As restrições menos intensas, embora se traduzam em resultados menos expressivos, podem conduzir a perdas mais sustentáveis através da adoção progressiva de comportamentos, o que permitirá a aquisição de novos hábitos alimentares.

Está definida uma forma de alimentação que comprovou cientificamente o seu potencial na prevenção e reversão de riscos clínicos da obesidade com melhorias digestivas e metabólicas, do desempenho físico e da saúde mental: uma dieta rica em hortofrutícolas e cereais integrais com aportes equilibrados dos diferentes nutrientes e adequado consumo de fibra. Se este padrão alimentar tem a capacidade de combater o principal assassino da sociedade moderna (doença cardiovascular), não deveria ser essa a dieta seguida por todos?

Se existisse um fármaco capaz de prolongar a vida e que só tivesse efeitos colaterais positivos, certamente todos estaríamos a tomá-lo! Seguramente ele estaria contemplado em qualquer plano de saúde e todas as pessoas do mundo rogariam por ele. Mas quando este fármaco é apenas “coma mais vegetais”, as pessoas perdem o interesse.

Para quê procurar soluções novas, cuja segurança, eficácia e efetividade são questionáveis?! As dietas muito restritivas e desequilibradas acabam sempre por constituir perigos para a saúde e deviam ser consideradas medicamentos “sujeitos a receita”, para garantir um adequado acompanhamento clínico. A aposta no equilíbrio e na proporcionalidade parece ser mesmo a melhor estratégia para alcançar o sucesso.

Ana Brito Costa assina este texto na qualidade de autora do ensaio “As Dietas da Moda, Impactos Clínicos”, editado em 2023 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), no âmbito da parceria entre o Jornal Económico e a FFMS.