Faz exactamentete dois anos que a empresa Evergrande, o maior construtor imobiliário chinês, não só assustou os investidores como se viu obrigada a levar a cabo uma reestruturação, com a intervenção do governo chinês, uma vez que a falência desordeira poderia lançar o caos no mercado imobiliário e criar ondas de choque internas e externas.
Em 2023, o aumento do incumprimento no pagamento da dívida de curto prazo emitida pelos governos locais (ou veículos por eles criados), bem como o anúncio pela Country Garden, um dos maiores construtores imobiliários da China, da sua incapacidade financeira de honrar o pagamento de dívida emitida em dólares americanos, veio reavivar os receios de contágio à economia, da bolha imobiliária.
A Country Garden, pela sua dimensão, emprega 70 mil trabalhadores, está envolvida em 3.000 projectos e conta com dívida na ordem dos 200 mil milhões de dólares, e tem impacto na confiança dos consumidores chineses, alguns com investimentos nos projectos imobiliários da empresa.
Já em 2022 a agência de rating Fitch tinha reduzido o rating para lixo, num sinal claro de que os problemas estavam a caminho, devido ao encerramento da economia por conta da pandemia, e ao aumento da taxa de poupança, tendo em conta a incerteza futura e da redução do preço no imobiliário.
A economia chinesa está num ponto crítico, com a produção industrial, vendas a retalho e investimento a abrandarem substancialmente, e o desemprego jovem a ultrapassar os 20%. Em resposta, a China baixou os juros, numa tentativa de aliviar os efeitos de um eventual impacto do aumento do incumprimento na confiança dos consumidores.
Neste contexto, importa abordar a tão falada criação de uma alternativa ao dólar americano, na qual países, como o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os apelidados “BRICS”, constituiriam uma moeda onde o Banco de Desenvolvimento, liderado por Dilma Rousseff, seria uma peça-chave. Importa ainda lembrar que a Rússia está com um problema de desvalorização da sua moeda, para além do efeito das sanções, que a rupia indiana está nos mínimos de sempre contra o dólar, que a China tem o yuan no nível mais fraco em 15 anos, o rand sul-africano não tem melhor sorte, e que, por ora, o real brasileiro vai escapando ileso.
Tendo em conta a subida dos juros nos EUA, apesar dos sucessivos défices americanos, a verdade é que a restante economia mundial ainda não é alternativa, seja a nível político, tecnológico e de defesa, seja a nível económico ou social. Ora, esta crise de dívida chinesa demonstra isso mesmo.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.