Portugal, enquanto lugar que conquista os olhares vindos do exterior não é apenas uma realidade de hoje. Na última década, temo vindo a afirmar-nos como um espaço de interesse para as comunidades investidoras. Contudo, nos últimos anos, nomeadamente em 2022, os valores de investimento estrangeiro têm atingido números cada vez mais elevados comparativamente com as últimas décadas.

Se olharmos para os dados oficiais, a AICEP angariou quase 50 novos projetos de investimento. Traduzido para uma linguagem mais prática, estes novos projetos significam um potencial investimento de mais de dois mil milhões de euros no nosso país, só em 2022. Um novo recorde analisado pela AICEP que vê setores como a tecnologia ou o imobiliário crescer de forma eficaz e rápida.

Podemos então, considerar o mercado português como um mercado que está em alta no âmbito do capital estrangeiro. Dos EUA à Suíça, passando por Inglaterra ou Noruega, sendo estes apenas alguns dos países que procuram investir no território nacional, e que representam o interesse no nosso mercado, seja empresarial seja imobiliário. Investimento que traz até Portugal diversos benefícios, através da criação de novos postos de trabalho, mas também contribuindo para um potencial crescimento da economia nacional, em números.

Segundo a OCDE, ainda que a existência de empresas estrangeiras em Portugal represente apenas 2%, estas são responsáveis por empregar 18% da mão de obra nacional e são ainda responsáveis por 4,6% das exportações, sendo, por isso, um real contributo para a fortificação da economia nacional.

Contudo, e tal como algumas das teorias da economia ensinam, nem tudo poderá ser analisado como uma mais-valia. Neste caso, o aumento do investimento estrangeiro, particularmente em setores como o imobiliário, por exemplo, acaba por criar um entrave aos investidores portugueses, uma vez que existe uma falta de capacidade de investimento português para competir com a fácil entrada de capital estrangeiro, criando assim desajustes na capacidade de investimento da população nacional e a externa.

A verdade é que esta dualidade poderá ser interpretada através de uma outra perspetiva. A criação de fundos de investimento do setor imobiliário tem crescido exponencialmente como consequência desse, os resultados são vigentes na criação de novas e cada vez mais oportunidades. A transição para uma economia cada vez mais direcionada para o investimento e para a entrada de capital estrangeiro, resultará, certamente, numa economia mais forte.

No entanto, o investimento estrangeiro não se baseia apenas no setor imobiliário e sim em outras áreas. O relatório sobre o impacto do quadro regulatório em Portugal mostra que as empresas estrangeiras são responsáveis por 25% do I&D. Segundo um estudo desenvolvido pela consultora Ernst & Young, em 2017, Portugal atraiu apenas 95 projetos de IDE, enquanto em 2021 foram cerca de 200, o que representa um valor recorde para o país.

Por sua vez, uma economia mais forte necessita também de apoios, quer do Estado, quer do setor privado/empresarial, como base, ou até mesmo como ponte de partida.

No caso de Portugal, a questão dos apoios é uma temática que tem sido debatida entre empresários e Governo. E aí, é clara a necessidade que existam empresas que estabeleçam uma ligação com as tais empresas investidoras estrangeiras e que direcionem o capital estrangeiro para onde é mais preciso: inovação e tecnologia. Só desta forma conseguiremos obter uma relação que seja mutuamente benéfica entre quem está em Portugal e quem vem de fora para investir no nosso país.

Um estudo referente ao mercado de tecnologia da informação (TI) nos EUA, intitulado “Africa’s youths can help solve the global tech talent shortage”, revela que cerca de 920.000 cargos da área de TI não foram preenchidos e, em termos quantitativos, menos de 50.000 estudantes se formaram em ciências da computação, deixando por preencher mais de 500.000 cargos/vagas em 2020.

Quando se fala em Portugal, um bom exemplo é a Mercedes-Benz.io, que veio para cá há cinco anos. Na abertura do hub de digitalização, a empresa afirmou que Portugal é exatamente o país onde querem continuar a estar. Também outras empresas estão a seguir o mesmo caminho, como a Bosch, que recentemente lançou uma iniciativa de aceleração de carreiras em Portugal.

É fundamental que a economia portuguesa promova um ambiente mais propício para o investimento estrangeiro. É fundamental que a economia portuguesa promova uma mentalidade de empreendedorismo e investimento nas empresas portuguesas. É fundamental que reconheçamos o potencial que reside no nosso país para que também seja possível aproveitar o lado positivo do investimento estrangeiro.