De acordo com o Eurostat, Portugal tem uma produtividade baixa, apenas 64% da média da União Europeia (PIB por hora trabalhada, PPP). Há várias explicações para esta diferença, tais como a baixa formação dos trabalhadores e gestores portugueses e a concomitante produção de bens e serviços de baixo valor acrescentado, mas gostaria de me focar numa outra explicação, a falta de capital, que não parece receber a atenção que merece.
Em 2022, o nosso país tinha um capital de 107,8 mil euros por trabalhador, contra uma média comunitária de 192,6 mil euros (a preços de 2015). Os países mais ricos têm mais capital por trabalhador (mais máquinas, mais computadores, mais automação, etc.).
Fazendo uma simulação simples, poderíamos dizer que, para chegarmos à produtividade – e salários – europeus, precisamos de acumular cerca de 500 mil milhões de euros de capital (cerca de 200% do actual PIB).
Entre 2015 e 2022, o PIB subiu em termos acumulados 15,1%, enquanto o emprego aumentou 10,6%, mas o total do capital caiu 0,3%, o que é absurdo. Isto significa que nos últimos sete anos o capital por trabalhador diminuiu mais de 10%, o que só nos afasta da média da União Europeia (UE).
Temos tido um investimento insuficiente, quer o privado, quer o público, que até está abaixo do período de contenção excepcional da “troika”. As políticas públicas não são amigas do investimento nem da poupança e sem isso não haverá convergência, sobretudo dos salários, com a UE.
Para além disso, há mecanismos de destruição de capital de deixar os cabelos em pé, em particular o regime de insolvência, cuja lentidão parece feita para enviar quase todo o capital das empresas para a sucata.
O congelamento das rendas dos anos 70 traduziu-se na ruína de milhares de prédios, outra forma de destruir capital e é necessário sublinhar que o imobiliário representa quase metade do total de capital. A lição não foi aprendida e o governo parece querer insistir no erro do projecto de “Mais Habitação”, que tem tudo para correr mal.
Para além disso, temos “investimentos”, muitos escolhidos por corrupção, que são equivalentes a deitar capital para o lixo, como os estádios do Euro 2004, vários dos investimentos com pretextos ambientais e o mais recente caso da TAP.
Em resumo, Portugal não só tem falta de capital, como o continua a acumular de forma insuficiente e a destruir parte do pouco que existe.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.