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Clubes portugueses perderam quase 350 milhões de euros em vendas neste verão

A Liga portuguesa, um dos maiores fornecedores de talento das cinco principais Ligas europeias, registou o pior saldo entre compras e vendas em dez anos. Especialista diz ao JE que “é cedo para concluir que Portugal está a perder essa posição” e acredita que clubes “optaram por reter os principais jogadores”.
7 Setembro 2023, 07h30

Os clubes da Primeira Liga perderam quase 350 milhões de euros em receitas, na janela de transferências deste verão, em comparação com os valores atingidos no mesmo mercado da época passada.

De acordo com os dados recolhidos pelo site “Transfermarkt”, as receitas com transferências dos clubes portugueses, na última janela de transferências, sofreram uma quebra de 343,71 milhões de euros face ao mesmo período da época 2022/23.

Assim, os clubes da Liga portuguesa atingiram um montante de 287,13 milhões de euros na venda de passes de futebolistas, um decréscimo significativo face ao mesmo período da época passada, janela em que essas receitas atingiram 630,84 milhões de euros.

De resto, o montante de 630,84 milhões, garantidos em transferências, foi o maior encaixe de sempre da Liga portuguesa em apenas uma janela de transferências, suplantando o anterior recorde atingido na época 2019/20: 524,60 milhões de euros em vendas. De resto, nas últimas dez épocas, só por quatro ocasiões a Liga ficou abaixo dos 300 milhões em vendas.

Liga a perder estatuto de maior vendedora para os “Big5”?

Luís Cassiano Neves, sócio fundador da 14 Sports Law, escritório de direito desportivo, que nesta janela de transferências participou em alguns dos maiores negócios do futebol português, destacou, em entrevista ao JE, que é cedo para retirar conclusões sobre se Portugal está a perder o estatuto de Liga que mais vende aos Big5.

“É cedo para se concluir que Portugal está a perder a sua posição de Liga que melhor vende para os principais campeonatos; para isso, seriam necessárias mais duas ou três janelas de transferências. Se Portugal não começa a recuperar os lugares que tem perdido, sobretudo para a Holanda, isso poderá ter reflexo na posição da Liga portuguesa”, destaca este especialista ao JE.

Por outro lado, acrescenta Luís Cassiano Neves, “há muito tempo que Portugal está conotado como um mercado caro. Apesar de se reconhecer a qualidade dos futebolistas que evoluem na Liga, é caro vir comprar a Portugal. Essa é uma ideia que temos de monitorizar para perceber se os países compradores pensam duas vezes antes de vir à Liga portuguesa buscar jogadores”.

E será que o valor mais baixo em vendas poderá significar que os clubes portugueses já se encontram em posição de reter talentos? Este especialista considera que essa é uma ideia que poderá estar ligada a esta quebra nas vendas. “Os projetos desportivos sobrepuseram-se à necessidade de garantir receitas e isso é interessante porque os três “grandes” encontram-se em fases distintas: um Sporting com vontade de voltar a vencer a Liga e com um investimento significativo e ainda a guardar “jóias” como Pote, Diamonde e Edwards; o SL Benfica vendeu o Gonçalo Ramos mas consegue reter António Silva, João Neves e Florentino, apesar das propostas; sabe-se que o FC Porto precisa de vender mas resistiu a fazê-lo quando estão em causa valores abaixo do valor de mercado dos futebolistas: o Diogo Costa e Taremi não saem por causa disso”.

Luís Cassiano Neves acredita que “nos próximos doze meses, estes clubes podem transacionar estes jogadores por valores consideráveis, assim como outros futebolistas que agora chegaram. Não me admiro nada se o SL Benfica e o Sporting CP fizerem, cada um, entre 80 milhões a 150 milhões em vendas. O FC Porto pode vender Diogo Costa por valores entre 40 milhões a 60 milhões de euros. Se isto acontece, tudo muda e passamos a ser novamente a grande Liga vendedora que temos sido”.

“Águias” lideram quebras nas vendas

De acordo com cálculos do JE, baseados nos números do “Transfermarkt”, o desempenho dos quatro primeiro classificados da época na venda de passes de futebolistas acabou por ser determinante para esta quebra, com o campeão nacional SL Benfica a liderar essa quebra face à época anterior.

Neste mercado de Verão, as “águias” garantiram um encaixe de 19,58 milhões de euros (até porque a venda de Gonçalo Ramos só será efetivada no final da época) quando no mesmo período na época anterior o clube da Luz tinha concretizado a entrada de uma verba próxima dos 271 milhões de euros em transferências.

A segunda maior quebra pertenceu ao SC Braga que, esta temporada, registou vendas no valor de 11,10 milhões de euros, um valor muito abaixo do desempenho da época anterior: 54,33 milhões de euros. A FC Porto SAD fez menos 19 milhões de euros em vendas (de 86,05 milhões para 67,50 milhões) e a Sporting SAD foi a que, apesar das perdas, registou uma diferença menor nestas vendas nos dois períodos (de 121,80 milhões para 123,50 milhões).

Feitas as contas, é possível perceber que do montante total garantido em transferências esta época (287,13 milhões), 77,2% (221,68 milhões) são relativas aos clubes que, tradicionalmente, garantem os maiores encaixes financeiros em Portugal: SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e SC Braga. E se esta temporada esses clubes garantiram 221,68 milhões de euros em transferências, esse desempenho valeu 533,1 milhões de euros na época anterior.

Saldo mais baixo em dez anos

Tendo em conta a descida no encaixe efetuado com a venda de passes de futebolistas, a Liga portuguesa atingiu o saldo mais baixo em dez anos. Uma vez que que as despesas dos clubes da Primeira Liga com contratações foram de 190,53 milhões de euros, e como vimos, existiu uma quebra tão grande nas vendas, o saldo atingido foi de 96,60 milhões de euros. Não se via um saldo tão baixo desde a temporada de 2013/14, período em que a Liga portuguesa obteve um saldo, entre receitas e despesas, de 87,74 milhões de euros.

Se tivermos como referência a Eredivisie (a Liga neerlandesa que está agora na posição seis no ranking da UEFA, anteriormente ocupada pela Liga portuguesa, e que permite a entrada de duas equipas diretamente na fase de grupos da Liga dos Campeões), é possível constatar que os clubes neerlandeses gastaram mais que os portugueses (190 milhões gastos na Liga e 229,75 milhões gastos na Eredivisie). Na venda de jogadores, vantagem também para a Eredivisie já que os emblemas deste campeonato fizeram 345,29 milhões em transferências, mais 58 milhões de euros que os clubes portugueses.

Entre os mais gastadores, e sem grande surpresa, está a Premier League. No global, os clubes, daquela que é considerada a melhor liga de futebol do mundo, investiram 2,8 mil milhões de euros em contratações. A francesa Ligue 1 cresceu no investimento em futebolistas, com os emblemas a contratarem jogadores no valor de 898,6 milhões de euros, seguida muito de perto pelo mais surpreende país a entrar na lista dos que mais gastaram: a Arábia Saudita com 896,57 milhões investidos. A Serie A italiana registou um investimento de 854,46 milhões de euros e a Bundesliga ficou pelos 748,05 milhões. A La Liga caiu ao nível do valor gastos em passes de futebolistas para 424,15 milhões de euros.

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