A ilha fictícia de Peter Pan, a Terra do Nunca, costuma ser a metáfora da infantilidade eterna ou da recusa em crescer que bem se podia aplicar à economia portuguesa. Com um desempenho anémico, é um País pouco competitivo, ao sabor da situação económica dos seus principais parceiros, endividado e centralista, estando fortemente dependente do turismo. Sem esquecer uma arquitetura fiscal complexa e desajustada da qualidade dos serviços que deviam ser assegurados pelo Estado.
Com os sinais de abrandamento da economia e a inflação ainda em níveis elevados, os próximos meses vão provar a dificuldade de crescimento do País e a capacidade do Governo em dar resposta à “síndrome de Peter Pan” que assola a economia portuguesa e encontra relação com a psicopatia que trata a incapacidade de compromisso em alguns indivíduos, que parecem recusar-se a entrar de vez na vida adulta, ignorando o princípio básico da natureza, que é o crescimento.
O próximo OE irá pôr a nu se o Executivo continuará a se socorrer de remédios para gripes cíclicas para ocultar o essencial, sem uma estratégia para o País não continuar no ‘Portugal dos Pequeninos’. Basta ver o dececionante crescimento de apenas 0,9% ao ano, face a 1,5% na UE, desde o início do milénio, ultrapassado em nível de vida por países de leste que aderiram mais tarde.
Com a economia a arriscar nova estagnação, depois do forte abrandamento no segundo trimestre deste ano — o PIB registou uma variação nula em cadeia e cresceu 2,3% em termos homólogos, exige-se um novo rumo. Uma ambição para crescer numa altura em que os dados do PIB revelam uma travagem das exportações, acentuando o principal risco para a continuação da dinâmica de crescimento: o fim do boom turístico.
Não vemos propostas de políticas públicas que apontem no caminho de fortalecer e apoiar o crescimento económico. O país carece de promover investimento e os empresários necessitam de um clima de confiança. E não há melhor emprego sem o desen- volvimento sustentável do país.
Assiste-se, pelo contrário, a uma espécie de distúrbio auto- centrado na política de contas certas e na redução da dívida (que é importante na dose adequada), com o argumento da credibilidade internacional e melhores instrumentos de apoio à economia. Mas estes apoios contra a inflação são curtos e ignoram a classe média asfixiada com a carga fiscal. E Orçamento após Orçamento, o Governo tarda em aliviar o seu peso no salário, que continua a ser de menos e o imposto demais, num país de remediados com impostos de países ricos. As baterias apontam-se, pois, à falta de empatia de um Executivo relati- vamente ao exaspero daqueles que enfrentam mensalmente dificuldades financeiras e em risco de já não conseguir assegurar as despesas essenciais, como pagar a renda ou a prestação da casa.
Portugal não pode ser a morada de Peter Pan que se nega a crescer, e, pior, quer a todo o custo nos levar à Terra do Nunca. É preciso que nos convençam que não vamos ficar presos por lá e, a partir daí, então, é possível começar a acreditar. Não há impossíveis. Até as vacas podem voar.