A mais recente decisão do Banco Central Europeu (BCE) elevou as taxas de depósito para 4%, valor mais elevado desde que o euro foi criado, muito embora a taxa de refinanciamento e a taxa de cedência de liquidez, nos 4,5% e 4,75%, respetivamente, ainda não tenham atingido o máximo histórico verificado no ano 2000.

Com esta decisão terminou a maior subida de sempre nos juros, de 4,5%, em pouco mais de um ano, um ajustamento com fortes impactos a curto prazo nas famílias e nas empresas e a médio prazo na dívida dos governos. Foi, também, a decisão que maior discussão gerou, nos últimos anos, entre os governadores, com muitos a forçarem a discussão em torno da manutenção da taxa de depósitos nos 3,75%.

As projeções divulgadas apontam para uma estagnação do crescimento da zona euro, com taxas de 0,7% em 2023, 1% em 2024 e 1,5% em 2025. Ou seja, depois de 1,8 triliões de euros, ou mais de 10% do PIB da zona euro, injetados na economia europeia até 2026, o bloco económico que pretende ser uma referência a nível mundial não consegue mais do que uma estagnação. Estes dados deveriam, por si só, querer dizer alguma coisa.

O investimento destes montantes não está a ser produtivo o suficiente, nem sequer para garantir o crescimento de riqueza futura, mas esta é uma questão a discutir em 2027.

Nesta decisão, ficamos ainda a saber que a inflação irá atingir os 2,1% apenas em 2025, altura em que se aproximará do mandado do BCE, os 2%, significando isso que as famílias não vão ter qualquer alívio nas suas prestações até essa altura.

Aliás, por várias vezes foram repetidas as palavras “tempo” e “nível restritivo”, ou seja, o BCE quis passar a mensagem que irá manter este nível durante mais tempo, fazendo, paralelamente, uma pausa na subida dos juros, até pelas divergências internas. No fundo, o objetivo do BCE é, em face das negociações salariais para 2024 e da tentação dos Estados em apoiar as famílias, manter o acesso ao crédito em níveis restritivos para não aumentar a capacidade de consumo das famílias.

Perante o abrandamento das exportações europeias, devido ao abrandamento das economias chinesa e americana, um PIB estagnado e a incerteza relativamente à guerra, aqui tão próxima, o BCE esticou a corda e está agora mais vulnerável a críticas de governos que podem, agora, utilizar a instituição como desculpa para os maus resultados económicos que se aproximam.

Não se justifica a subida dos juros acima dos 3%, tendo em conta os spreads que as famílias e empresas pagam. Assim, tanto o consumo como o investimento ficarão à mercê de apenas um apoio – o PRR.