A especulação imobiliária vem num crescendo geométrico nos últimos dois anos. Depois de um período de crise, as novas construções jorram um pouco por toda a parte, particularmente nos grandes centros urbanos. Esta bolha que se está a formar, e para a qual a própria Comissão Europeia já chamou à atenção, pode ter quatro tipo de consequências, de acordo com os seus consumidores finais.
Começamos pelo Corporate. Aqui centram-se os imóveis destinados a escritórios, armazéns e grandes espaços comerciais. As consequências da crise neste sector, afectariam sobretudo Fundos de Investimento e empresas. A desvalorização num cenário de crise dos imóveis, afectaria directamente estas entidades, podendo levar à insolvência, com os efeitos que tal situação compaginaria para a economia e emprego.
Avançamos agora para os Particulares que compram sem recurso a crédito bancário. Estes veriam, tal como aconteceu nos momentos anteriores de crise, o seu imobiliário a desvalorizar e numa situação de necessidade de venda, a registar menos-valias muito significativas.
Depois temos os Particulares com recurso a crédito. Aqui residem, em minha opinião, os efeitos mais nefastos de um rebentamento da bolha. Quem recorre ao crédito (nas suas triplas variantes) está a viver acima das suas possibilidades. É verdade que o crédito é bom, porque permite aceder a um conjunto de bens que de outra forma não seria possível, (a casa é um desses bens), desde que devidamente controlado, particularmente no que concerne à taxa de esforço face ao rendimento disponível de cada agregado familiar.
O que acontece é que, muito mais vezes do que qualquer cidadão possa imaginar, esse limite de segurança é ultrapassado e, assim sendo, perante uma crise grave, que embora sendo no imobiliário, acaba por contagiar toda a economia, as situações de desequilíbrio estão a um pequeno passo de distância – ex: desemprego ou perca parcial de rendimentos.
Nestas circunstâncias, e perante uma situação de incumprimento contratual, resta ao mutuário do crédito tentar vender o imóvel pelo melhor preço possível ou esperar que o Banco solicite a execução da penhora do bem. Mas em qualquer uma das situações, o mutuário irá sempre perder, porque o mercado será inundado de imóveis, logo oferta superior à procura, logo também o preço descerá para além do valor real do imóvel.
Por fim, as consequências para os credores hipotecários – a Banca. E, aqui, é um déjà-vu, se tivermos presente o que aconteceu há bem pouco tempo, com a crise de 2009/2013.
A Banca que hoje está numa correria desenfreada para financiar imóveis, consumo e outros fins, voltará a ter que constituir provisões para crédito vencido, a vender carteiras de NPL (Non Performing Loans) e a aumentar o seu capital, porque entretanto a parte do denominador do Rácio de Solvabilidade degradar-se-á muito e é preciso manter o nível do mesmo, de acordo com as exigências do regulador europeu (BCE) e nacional (BP).
A exposição da Banca ao sector imobiliário era, no mês de Junho do corrente ano, de 92.837 milhões de euros, enquanto a exposição ao Crédito ao Consumo registava um valor de 14.505 milhões de euros e a exposição para Outros Fins assinalava 7.637 milhões de euros. O cenário está traçado e claro de se ver.
Em Economia, nunca ninguém sabe quando um evento muito significativo e passível de afectação negativa do contexto macroeconómico ocorrerá. No entanto, e perante estas circunstâncias, não tenho dúvida de que irá ocorrer. Basta que se alinhe um conjunto (não necessariamente muito alargado) de circunstâncias, para que os efeitos sejam imediatos.
Profilacticamente, pode tomar-se neste momento alguma medida que evite o ocorrer desta situação? Penso que é tarde!
A Banca mostra que não aprendeu com as situações difíceis que lhe bateram á porta, há poucos anos e insiste num modelo de negócio global, que não é o ajustável à nova realidade. Ou seja – deverá procurar mais desintermediação e menos intermediação!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.