Se tudo correu como esperado, a Reserva Federal norte-americana (Fed) não mexeu na taxa de juro na reunião desta semana. O bom desempenho da economia americana e o progresso na redução da inflação, que está em 3,7% (era 8,3% há um ano), são de molde que a FEDWatch tool da CME dê uma probabilidade de 99% a que assim seja. A economia americana está em soft landing, conseguindo algo que não era antecipado: controlar a inflação sem provocar uma recessão.
A discussão agora é se ainda haverá uma subida em dezembro e quando começarão as descidas no próximo ano. Porém, há riscos pela frente. O primeiro são os preços da energia, em particular do petróleo. Tudo se conjuga, desde a maior procura do outono-inverno ao comportamento estratégico dos produtores, reduzindo a oferta, para criar pressão sobre os preços.
O segundo é conseguir acertar na cadência de descida da taxa de juro. As taxas estão aos valores mais altos em mais de 20 anos, se ficarem demasiado elevadas por demasiado tempo podem criar uma recessão.
Terceiro, o défice federal está numa trajetória insustentável, e financiá-lo vai impactar sobre os juros; quanto mais tarde se tomarem medidas para o reduzir, maiores o risco.
Quarto, a economia mundial, americana incluída, pode sofrer com a situação na China, onde o crescimento abrandou fortemente e a bolha imobiliária ameaça explodir. Um abrandamento na economia mundial significa redução das exportações americanas, o que favorece um cenário de recessão.
Há, porém, um risco que tem tido menos atenção, mas que veremos acentuar neste momento pré-eleitoral: o de haver mais um shutdown da administração americana, em que o funcionamento da administração pública fica em causa. Os serviços públicos, para funcionarem, têm de ter a sua despesa autorizada, nos termos do Antideficiency Act de 1884 (alterado em 1950).
Sem uma autorização do Congresso, os funcionários não são pagos. Uns ficam em casa, outros – ligados a tarefas essenciais, como a segurança – trabalham sem receber até o Congresso autorizar a despesa. Recentemente houve shutdowns com Clinton (26 dias), Obama (16 dias) e Trump (35 dias).
Está em causa um quarto do Orçamento (não são atingidas despesas como a Segurança Social ou o Medicare, que não são despesa discricionária) e o seu impacto está estimado em 0,2% do PIB por cada semana que dure. É problema muito menos grave que o do teto da dívida, com consequências económicas mais limitadas. Infelizmente, nota a Goldman Sachs, precisamente por isso a probabilidade de o evitar a tempo é muito menor.