A evolução e arrumação do xadrez político nacional é um tema que sempre tem suscitado análises e debates, designadamente quando se aproximam atos eleitorais, sejam eles quais forem.
Representando o centro político – com nuances mais de direita (PSD) ou de esquerda (PS)- uma fatia efetivamente dominante do espectro político nacional, o certo é que cada vez mais se afirma a dicotomia esquerda/ direita, fazendo integrar os dois centros políticos atrás referidos nesta dicotomia. Com efeito, tal tem sido prática corrente no léxico político, embora em abono de verdade haverá muitos eleitores moderados do dito centro alargado a quem custa aceitar que lhes coloquem o rótulo de ser da esquerda ou da direita. Mas enfim a realidade e as próprias dinâmicas políticas vão consolidando esta divisão, até porque uma aliança dos centros – o dito” centrão” – poderia vir a traduzir-se numa certa promiscuidade de interesses dominantes, dando aso a que um eclodir de eventuais insatisfações sejam logo “cavalgadas” por correntes extremistas ou mesmo demasiado radicais do espectro político. No entanto pessoalmente não tenho grandes duvidas que a maioria dos portugueses quer ser governado ao centro através de medidas que criem riqueza, assegurem maior equidade social ,com base em reformas em áreas chave da sociedade, todas elas num tom moderado mas convincente.
Descartada uma aliança formal entre os dois centros, tal não significa que pontualmente e em situações de relevo para o país possam -ou melhor devam- existir acordos pontuais ou mais duradouros em matérias de maior relevo estratégico nacional, entre dois partidos alternantes da governação Isto claro se não levarmos demasiado a sério proclamações de António Costa do tipo “ um dia que precisarmos do PSD cai o Governo” ou, ao invés, se persistirem os ataques ruidosos por parte da direção do PSD num tom estruturalmente “anti-socialismo”(como se este já tivesse saído de vez da “gaveta” em que foi metido justificadamente nos anos 70). .
Assim sendo, a realidade político partidária atual integra à direita o PSD, Iniciativa Liberal, Chega, CDS e à esquerda o PS, o BE, o PCP ,o Partido Livre e posso admitir uma posição quase neutral para o PAN ( as eleições regionais na Madeira podem indiciar tal ao arrepio do que parecia ser uma tendência a nível nacional).
É neste contexto, e no início dum longo período com diversas eleições, que utilizei como ferramenta analítica a matriz estratégica da BCG( Boston Consulting Group) em ordem a arrumar o posicionamento dos partidos em quatro quadrantes. De referir que trata-se dum exercício analítico pessoal com adopção de critérios naturalmente subjectivos e discutíveis. ( ver desenho abaixo)
Dois grandes critérios foram para o efeito utilizados:
No eixo das abcissas: peso do Estado na economia em geral( v.g. peso da despesa publica e da carga fiscal ,relevância da economia empresarial privada, convergência com os modelos das principais economias liberai das UE, organização do Estado Social.,etc) Na matriz este eixo assume os valores de 0 a 10, sendo que abaixo de 5 designaremos baixo peso do Estado na Economia e acima de 5., ao invés, significativo peso do Estado na Economia.
No eixo das ordenadas, o 2º critério traduz : grau de conservadorismo( em matéria de costumes, valores e tradições, de nacionalismo exagerado e por fim, em matéria das chamadas causas fracturantes …). E assim , segundo a mesma ordem de ideias temos que abaixo de 5 estamos perante um baixo grau de conservadorismo e, por sua vez, acima de 5 configura-se um significativo grau de conservadorismo.
São estes os critérios que utilizei, insisto naturalmente discutíveis – desde logo na pontuação atribuída,- que traduz a perceção que tenho do sentir da massa eleitoral de cada partido mais do que das proclamações das suas lideranças– mas que de alguma forma permitem a arrumação do nosso xadrez político nos quadrantes da matriz apresentada, assim viabilizando, a meu ver, um conjunto de conclusões com alguma relevância em termos de interesse analítico.
Assim deduzimos, tendo sempre como base a dicotomia esquerda direita, as seguintes conclusões:
Do lado do bloco de direita, PSD e IL encontram-se no mesmo quadrante da matriz , mas com efetivo distanciamento nos critérios utilizados pelo que qualquer projeto em comum será possível se houver aproximações transparentes que impliquem cedências( mais da IL) numa visão social liberal. E para constatar esta dificuldade tenhamos em atenção o que ocorreu nas recentes eleições na Madeira. Já o CDS- que tradicionalmente era um apêndice do PSD revelando na prática grande sintonia – encontra-se no mesmo quadrante do Chega e tem que, a meu ver, voltar a afirmar a sua identidade conservadora mas democrática, assim conflituando com o Chega com vista a recuperar o seu eleitorado genuíno que se foi afastando.. Só após ter estabilizado esta conflitualidade é que pode – com proveito – integrar a nível nacional um bloco de direita com PSD e IL que possa assumir um plano de governação. Mas terá sempre que haver cedências do CDS mais em matéria de conservadorismo de costumes, valores e tradições, facto este que até pode ter eventuais efeitos perversos no equilíbrio final..
Do lado do bloco da esquerda vemos o PCP isolado num quadrante da matriz( para o que contribui o seu conservadorismo em diversas matérias de costumes e valores) encontrando-se noutro quadrante diferente a chamada” área socialista” integrando o PS, o BE, o Livre e de certa formam( arrisco) o PAN, situação esta que foi entretanto desmentida nas eleições regionais da Madeira.(embora não extrapolável à partida para o nível nacional). Mas atenção o facto de toda esta ala esquerda se situar no mesmo quadrante não esconde uma significativa distância dos respectivos partidos em matéria de pensamento quanto à intervenção e peso do Estado na economia , designadamente no que diz respeito à relevância da iniciativa privada e quanto à visão que apresentam ( sobretudo o. BE) sobre a adesão à UE e claramente da integração no bloco de defesa da Nato. Temos assim que a formação dum projeto comum de esquerda torna-se também complicado na atual circunstância, e o facto de ter sido já de alguma forma sido testado sem sucesso sugere que as aproximações terão que ser sólidas q.b.. sobretudo do lado do BE até porque não se vislumbra que o PS queira deixar de ocupar uma parte do centro político, indo assim de encontro à preferência de grande parte da sua massa eleitoral . Por seu turno será talvez mais fácil a meu ver, uma cooperação com o relativamente mais moderado Livre ( e arrastando o PAN?) ,mas a pequenez da dimensão eleitoral destes partidos inviabiliza à partida uma hipotética solução governamental.
Como conclusão:
A consolidação de um bloco de direita versus um da esquerda exige substanciais aproximações e cedências no interior de cada um. As cedências terão que naturalmente ser maiores por parte dos partidos com menor peso eleitoral, em respeito pela própria democracia. Podem arranjar-se, em ambos os casos, soluções conjunturais que atuarão como meros remendos, mas contudo sem a sustentabilidade/solidez que um projeto político requer para ser bem sucedido.
O que leva tempo!