No 3º trimestre de 2023, a economia da zona euro caiu 0,1% em termos trimestrais, enquanto a economia portuguesa teve um desempenho ligeiramente pior (-0,2%). A forte subida das taxas de juro está a produzir os seus efeitos, em parte mesmo desejados pelo BCE.

Poucos dias depois, deu-se a invasão de Israel pelo Hamas. Curiosamente, a reacção dos mercados da energia tem sido muito tímida, dominando a expectativa de que o conflito permaneça circunscrito. No caso do petróleo, o preço do Brent está inclusive abaixo do de final de Setembro, enquanto no caso do gás natural, a subida foi pouco superior a 10%, mas com valores abaixo dos registados no início do ano e muito menores aos verificados aquando da invasão da Ucrânia.

Um dos aspectos mais curiosos é que a inflação de Outubro, quer na zona euro e quer em Portugal, teve uma queda muito sensível, não só beneficiando de efeito base dos preços de energia em Outubro de 2022, mas também registando uma diminuição destes preços no próprio mês em que deflagrou mais um conflito.

Permanece uma enorme incerteza sobre as proporções que esta nova guerra vai tomar e, mesmo que não haja impactos significativos a nível do preço da energia, é provável que a mera incerteza tenha impacto económico, abrandando o consumo e o investimento e, por essa via, as exportações na Europa e em Portugal.

Os dados preliminares de actividade de Outubro, quer na zona euro quer em Portugal, têm sido negativos. Ou seja, com as elevadas taxas de juro, o abrandamento económico e estes novos receios, pode bem ocorrer uma nova queda do PIB no 4º trimestre, o que constituiria a chamada recessão técnica (dois trimestres sucessivos de diminuição do PIB trimestral). Apesar de a palavra “recessão” ser um pouco assustadora, tem que se dizer que, a ocorrer, esta recessão provavelmente será pouco profunda e de curta duração.

Na verdade, neste momento a dúvida essencial é sobre a evolução das confrontações no Médio Oriente, devendo salientar-se que o objectivo do Hamas (e/ou do seu dono ou donos) parece ser o de que haja o máximo de estragos possível a nível mundial. Será que os EUA conseguirão conter suficientemente a resposta de Israel?

Parece que todos estão conscientes de que, se a guerra alastrar, não só a probabilidade de recessão aumentará, como esta terá tendência para ser mais acentuada e prolongada.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.