A pergunta é direta: qual o valor da sua liberdade? A resposta nem sempre é. Adaptando a célebre frase de Vasco Santana em “A canção de Lisboa”: “liberdades há muitas”. E se eu lhe perguntar de quanto dinheiro precisa para viver condignamente a sua reforma?
Todos ambicionamos chegar ao fim da nossa carreira profissional e gozar umas merecidas férias sem calendário e sem destino.
Nesta equação há um pormenor, que não é assim tão pequeno, e que muitos descuram. Quem se reformar em 2025 vai ter uma reforma que corresponde a cerca de 85% do seu último recibo de vencimento. Já quem se reformar em 2045 receberá menos de metade do seu salário. Ou seja, alguém que ganhe 1.200 euros, em 2045, se chegar à idade de reforma nesse ano, passará a receber da Segurança Social menos de 600 euros por mês.
Os dados são da Comissão da Europeia, não fui eu que os inventei, e revelam bem o sentido de urgência que temos de impor à constituição de poupança. É vital que nos convençamos a pensar na reforma. Tudo para mantermos a nossa liberdade.
Recordando a importância de assinalar o Dia Mundial da Poupança, a 31 de outubro, gostaria que olhássemos para este termo como sinónimo de liberdade. Volto a perguntar: qual é o valor da sua liberdade?
Muitas pessoas olham para a poupança como algo aborrecido, chato, desnecessário e, em muitos casos, impossível de alcançar. Se pensarmos que de um mês para o outro podemos ter um corte de rendimentos de 50%, vamos manter a ideia de que poupar é desnecessário?
E, claro, num cenário como o que estou aqui a partilhar, para mantermos o nível de vida que ambicionamos, não chega guardar dinheiro num depósito. É preciso mais. Precisamos de criar incentivos ao investimento. É preciso que os portugueses corram riscos. Sendo que, para que esses riscos sejam comportáveis, é preciso que percebam o que estão a fazer. E é por isso que a literacia financeira devia ser encarada como um bem de primeira necessidade.
Mas vamos a contas: uma pessoa com 40 anos que comece hoje a poupar 100 euros por mês vai chegar à idade da reforma com menos de 32 mil euros, tendo em consideração que tem 26 anos de trabalho pela frente.
Pensemos que esta pessoa ganha os tais 1.200 euros e que tem despesas fixas no montante de 800 euros. Quando em, 2049, chegar à idade de reforma (pressupondo que esta não é alterada, o que é improvável), esta pessoa vai passar a ter uma reforma inferior a 600 euros. Como pagará as despesas fixas? Através da tal poupança criada. Se esta pessoa retirar apenas 200 euros por mês da sua poupança, o seu pé-de-meia esgota-se ao fim de 13 anos.
E, atenção, estamos a pressupor que esta pessoa só retira dinheiro para pagar contas fixas. Estou a desconsiderar o lado mais inspirador de quem trabalhou a vida inteira para poder, por fim, gozar a reforma: sem passeios, sem férias, sem qualquer devaneio. Ah! E sem problemas de saúde de maior, claro!
Sabem o que é mais assustador? É que a esperança média de vida está nos 80,96 anos, o que significa que esta pessoa chegará aos 79 anos sem qualquer rede de segurança financeira. Não é um cenário muito animador. Mas é muito realista. E é por isso que é importante falarmos de poupança. Porque, na verdade, estamos a falar sobre liberdade: liberdade de escolhas e de uma vida mais plena.
Fazer escolhas e ter disciplina no imediato, pode garantir-nos todo um mundo de tranquilidade no futuro. Pelas contas que partilhei aqui, à pergunta quando devo começar a poupar, a minha resposta é: ontem. Devemos começar a poupar o mais cedo possível e devemos pôr o nosso dinheiro a trabalhar. Ou seja, é preciso investirmos e garantirmos que os 100 euros que pouparmos vão multiplicar-se. Sendo que o tempo é o nosso melhor aliados no universo dos investimentos: quanto mais tempo tivermos, maior retorno podemos conseguir.
Termino como comecei: qual é o valor da sua liberdade? Mas acrescento: o que precisa de fazer para a garantir? E já sabe, tem de começar ontem!