Com dezembro a entrar, restam poucos dias para terminar mais um ano, tempo para balanços e para antever o que se inicia, e que promete um horizonte com algumas nuvens de incerteza. Desde logo, porque 2023 nos vai colocar num clima de agitação política e social poucas vezes visto nos últimos anos.

Novembro e dezembro ficarão associados a um número assustador de paralisações setoriais em várias áreas da administração pública. A este cenário não será alheio o facto de existir mais de um milhão de portugueses que vive uma situação de precariedade laboral, número que tem crescido mais de 10% ao ano, pelo vínculo instável com o emprego, deixando muitos cidadãos empregados numa situação de insegurança e de exposição à evolução da economia. A incerteza atinge também os salários, acrescida pela discrepância pública e privada com salários diferenciados por decreto governativo.

No que toca à economia, a OCDE prevê um abrandamento global, com base na constatação de que o ciclo de expansão já atingiu o seu limite. Em Portugal, estima-se um crescimento de 1,5% em 2024. Com uma crescente dependência externa e uma dívida pública bruta gigante – onde os juros já nos custam por ano mais de sete mil milhões de euros – Portugal depende cada vez menos de si próprio.

Politicamente, 2024 ficará marcado pelas eleições para a Assembleia da República, em março, para o Parlamento Europeu, em maio, e para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, em outubro (se não antes). Perspetivam-se alterações e novas lideranças, na sequência da atual crise política, mas será que a coexistência com esses atos eleitorais vai permitir criar as melhores condições para debater o país que queremos? Haverá espaço para tomar medidas estruturantes, ainda que pouco populares? Avançarão obras decisivas para o nosso desenvolvimento socioeconómico?

Em Portugal, novo governo e primeiro-ministro, na Europa, quatro instituições terão novos líderes – Comissão, Conselho, Parlamento e Banco Central Europeu, nos Açores, estabilidade. O ano de 2024 será determinante e desafiante, mas com cautelas. Os portugueses ainda não esqueceram os difíceis momentos da crise e da intervenção externa. É pouco provável que voltem a perdoar anos de má governação e má liderança.

Não faltam desafios para o nosso país que terá de adotar um novo modelo de desenvolvimento económico e social, que passe por credibilizar a política, por libertar a economia para a criação de riqueza. Não haverá futuro sem que sejam criadas as melhores condições para uma sociedade civil criativa, empreendedora e inovadora, com um Estado forte e eficiente. Esta é a única forma de atingir o verdadeiro crescimento económico.