Quem conhece Angola pela primeira vez, poderá não saber que existem coisas que são muito nossas, mais do que o petróleo que move a nossa economia, ou Cabo Ledo e as suas praias.

Nós, os angolanos, rimo-nos de nós próprios e dos infortúnios fazemos sátiras, neste momento em que em todo o país chove atipicamente, provavelmente consequência das alterações climáticas, até já circulam memes jocosos, dizendo que em determinadas zonas é preciso um aplicativo para chamar canoas.

Os nossos candongueiros, carrinhas fechadas de até oito lugares, mas que cabem até 12 pessoas, pintadas de azul e branco, são disseminadores de várias mensagens, coladas no vidro traseiro.

“Irmão, Deus te ama”, “Não vão entender nada, tudo natural… com ketchup e maionese”, “Não sou dono do mundo, mas sou filho de Deus” ou “Não me estraga o dia” são disso exemplo.

Algo que também é muito nosso são os neologismos que criamos e as expressões que veiculamos na conversação. Confesso que sou fã e é frequente ouvir-me dizer quando a situação é complicada: “Então é isto o que se passa no país” ou “Segura o corpo”.

A dança e a música, especialmente o kuduro, são também de rápida propagação, desde “beats” que nos incentivam a fazer agachamentos, ou que nos põem a imitar um cavalo como se estivesse maluco. Quem já viu sabe do que falo….

Muito nosso, também, é a reverência aos mais velhos. Aliás, com o passar do tempo, deixei de ser moça ou tia e passei a ser mamã ou kota… E passou a ser muito comum, ao cumprimentar, receber de volta um: “Bom dia sim, mamã”. Não nos podemos esquecer dos tempos de guerra e da desestruturação das famílias.

Durante um tempo, fez-me confusão o mata-bicho/pequeno-almoço de sopa de feijão, na minha cabeça formatada na Europa. Por que razão as pessoas comeriam tal manjar logo pela manhã…? Hoje sei que pode ser uma das poucas refeições do dia e que fará com que quem a tome resista aos desafios da jornada.

Por outro lado, e não por indicação do ex-ministro do Comércio, passei a apreciar um bombó frito (mandioca) com uma ginguba (amendoim) e chá. Há quem goste da versão banana-pão e ginguba… mas convém ressalvar que não é assim em todas as províncias.

Sabem, não quero que pensem que estou a querer “Fazer sentir o meu nome” (expressão usada para enaltecer ou destacar-se) e muito menos a ser “boluzenta” (arrogante), mas ser angolana “kuia” (agrada-me) muito! Apesar de tudo o que poderia estar e ser diferente, a minha gente é criativa, dinâmica e sagaz, tem um espírito resiliente e empreendedor, e mesmo perante os desafios consegue sorrir e encontrar soluções. “N’um estragou nada… estamos sempre a subir…”