Quando ler este texto a Reserva Federal (Fed) dos EUA manteve a taxa de juro (a probabilidade é hoje 97%), isto porque apesar de a inflação ter caído para 3,2% em outubro, o mercado de trabalho continua forte – em novembro criaram-se 200 mil empregos e a taxa de desemprego caiu para 3,7%.
Afinal, a economia americana terá um soft landing e a questão que se coloca agora é quando vão as taxas começar a descer, como está a ser sinalizado nos bond yields: os títulos a dez anos viram o seu rendimento cair de 5% a meio de outubro para 4,3% no final de novembro. O Tesouro americano está a emitir mais dívida de curto prazo a apostar nisto.
Mas se espera que a prazo as taxas caiam para os valores de há dois anos, desiluda-se; as taxas nulas (ou quase, para não falar das negativas) que tivemos de 2009 a 2021 são um mero episódio da história económica recente, um conjunto de fatores impede a repetição.
Em primeiro lugar, se a inflação cai, é mesmo assim persistente, como o implica a taxa core estar muito acima da total. Em segundo lugar, os défices e a dívida pública estão a níveis elevados e vão continuar – nos EUA, o CBO – Congressional Budget Office estima que o défice rondará os 7% do PIB no final da década, ajudado pela subida dos encargos da dívida. O financiamento do défice por emissão de dívida puxa as taxas para cima e o crowding out reduz o investimento e castiga a produtividade.
Mas outros fatores estruturais se desenham: o abrandamento da globalização, devido em parte à relocalização da produção, vai elevar os custos e pôr pressão na inflação. E com financiamento mais caro as startups deixarão de se multiplicar como coelhos. O envelhecimento da população agrava este movimento. É a hora dos estruturalistas, que pensam para além do imediato.
Um sinal disto vai ser o fedspeak no fim da reunião do Open Market Committee da Fed esta quarta-feira: se ouvir falar em neutral interest rate, a taxa de juro natural (que mantém a economia em equilíbrio, à qual a política monetária não é nem recessiva, nem expansionista, e que soma a taxa de juro real com a taxa de inflação e o prémio do risco associado ao tempo), prepare-se: é confessar que a taxa de juro de longo prazo vai estacionar a um nível significativamente mais alto.
Como já foi dito, é só fazer as contas: para uma taxa de inflação de 2%, uma taxa real de 1% a 1,5%, e um prémio das taxas longas sobre as curtas perto de 1%, a taxa de juro estará acima dos 4% e poderá rondar os 5%. Há dois anos, Powell juraria que 2,5% era o teto. A maré está-se a levantar.