O contexto de emergência climática, marcado por crises simultâneas que englobam a pandemia e o conflito geopolítico poderão hipotecar algumas das ações e esforços de longo prazo, nos domínios das Alterações Climáticas e da Biodiversidade.
Perante esta conjuntura, a união de esforços dos diversos stakeholders – governos, empresas, instituições financeiras – torna-se um requisito incontornável para enfrentar com eficácia estas ameaças globais. Esta concertação implicará o alinhamento das agendas de clima e biodiversidade, sob prejuízo de assistirmos ao contínuo aquecimento global e inevitável colapso dos ecossistemas. A intrínseca correlação das alterações climáticas e da conservação da natureza e da biodiversidade é evidente e inquestionável. As alterações climáticas são dos principais fatores que levam à perda de biodiversidade. A perda de florestas e degradação dos ecossistemas são uma fonte de emissão de carbono.
Até agora estes temas têm vindo a ser geridos de forma não integrada, com agendas a ritmos diferentes. Na cimeira do clima do ano passado, teve palco o crescente consenso científico e político de que não é possível atingir o objetivo de 1.5ºC do Acordo de Paris sem proteger e restaurar a natureza. O que torna imprescindível a materialização da Agenda de Adaptação de Sharm El Sheik, e o financiar soluções baseadas na natureza. Já na COP15, houve lugar para o aguardado momento com o Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework, onde foram acordadas medidas para endereçar a perda de biodiversidade e restauro dos ecossistemas terrestres e marinhos.
A nível global, estão a ser implementados diferentes mecanismos e acordos que evidenciam a pertinência de ação conjunta. O Pacto Ecológico Europeu, o Acordo de Paris para a Biodiversidade e a Lei do Clima Europeia são iniciativas que definem metas e compromissos para a neutralidade climática, com ações que vão desde a proteção e recuperação da natureza, até à transição para uma economia de baixo carbono.
Compete aos governos a integração e implementação desses compromissos, mobilizando para isso variados agentes no respetivo território. As empresas, por outro lado, devem ser capazes de avaliar os impactes e as dependências associadas à natureza nas suas estratégias de negócio. Já a banca, por sua vez, deve orientar o financiamento para atividades que não coloquem a biodiversidade em risco ao mesmo tempo que promovem a agenda climática.
Importa realçar que o sucesso dos acordos estabelecidos ao nível do Clima e da Biodiversidade está dependente da gestão integrada da biodiversidade e alterações climáticas, o que configura um desafio complexo para os governos, empresas e instituições financeiras, num momento onde a janela de oportunidade de resposta é “agora” e incita a uma sinfonia de ações coletivas.