Se algo é provável acontecer em 2024, é não ser melhor que 2023. Várias coisas o justificam: por exemplo, afinal é possível que Trump ganhe as eleições americanas no final do ano.

Biden não consegue convencer os eleitores quando estes sentem que o seu nível de vida regrediu, com habitação e educação mais fora de alcance, enquanto Trump consegue passar por vítima de uma caça às bruxas. Mesmo o sucesso de Biden no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego a cair dos 6,3% deixados por Trump para os atuais 3,9%, tem para muitos menos valor que o combate à imigração ilegal proveniente do México, em que para eles Trump excela.

A mais recente sondagem dá a este uma vantagem de quatro pontos, não – coisa surpreendente – por Trump ganhar apoio em relação a 2020, mas por perder menos: Trump conserva 80% do seu eleitorado, enquanto Biden só mantém 69%. Biden está também mais vulnerável face aos independentes, e em particular a R. Kennedy jr.

Já em termos económicos, os EUA parecem estar numa posição mais sólida do que se antecipava, com o cenário de hard landing para já afastado. Mas a questão agora é tout court se há landing, ou seja, se há uma vitória definitiva sobre a inflação e se, como Powell deixou antever, vamos ter descidas da taxa de juro no segundo semestre.

Para já, estamos aparentemente no princípio do fim: a inflação caiu para 3,1%, abaixo da média histórica de 3,3% para 1914-2023, e os preços na despesa de consumo das famílias, a medida preferida da Fed para a inflação, caíram 0,1% em novembro, a primeira queda mensal desde abril de 2020.

Mas a dúvida é o que se vai seguir, com a política fiscal expansionista de défices orçamentais recorde: se se mantém o tapering, com o risco de o mercado financeiro secar mais que bacalhau, o crowding out ser substancial e o crescimento pífio; ou se a política monetária levanta o pé, e a combinação com esta política fiscal fazer regressar a inflação. Uma “long and winding road”.

Só Putin tem um ano promissor pela frente, com uma vitória em eleições de faz de conta, cujos boletins de voto seguem o modelo Saddam Hussein: um quadro com Vladimir Putin, outro com “dê-me um tiro e mande a minha família pró Gulag”. Isto e a ajuda dos deputados republicanos nos EUA, que estão a dificultar o apoio prometido à Ucrânia e a ser tão importantes para suportar a Rússia como os recursos transferidos de África pelo Grupo Wagner e outros. A vitória de Trump seria a cereja no topo do bolo. Esperemos que antes se engasgue.