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China está a acumular stocks de petróleo e Ocidente não percebe porquê

A economia chinesa está a desacelerar e a demografia está a encolher. As necessidades de petróleo diminuem, mas a China está a comprar como se estivesse em expansão.
18 Janeiro 2024, 09h19

A China é o maior consumidor mundial de petróleo: o país asiático precisa de cerca de 15 a 16 milhões de barris de petróleo bruto todos os dias para ‘olear’ a economia e uma boa parte deles vem das importações. Nada de novo. Mas os analistas detetaram um movimento inesperado: apesar de a economia chinesa estar a desacelerar (o que quer dizer que consome menos petróleo) e a sua produção interna da commodity estar em níveis recordes, as importações estão a atingir um novo recorde.

Ou seja, Pequim continua a sua estratégia de acumular petróleo, uma “faísca” que pode inflamar um mercado de petróleo bruto já exposto a tensões geopolíticas e aos cortes da OPEP. Em comparação com outros países (como a Índia), que preferiram adiar o reabastecimento das suas reservas de petróleo, a China está a comprar petróleo bruto ao ritmo mais rápido da história (de acordo com dados de importação publicados pela alfândega chinesa).

Para os analistas ocidentais, este é um movimento que não é consistente com o que está a acontecer na economia interna. O PIB está a perder força, enquanto a aposta nos veículos elétricos está a ganhar terreno rapidamente – num contexto social em que o número de chineses tende a diminuir. É verdade que os chineses estão a ficar um pouco mais ricos, referem os analistas, e isso permite que famílias que antes não podiam comprar um carro, agora o possam fazer, mas parece improvável que esse seja o motivo que está a fazer disparar a compra de petróleo bruto.

De acordo com cálculos de analistas da Reuters, nos primeiros 11 meses de 2023, a China teria acumulado cerca de 670 mil barris de petróleo por dia nas suas reservas, sejam stocks comerciais ou reserva estratégica.

“A China continua a ser a principal fonte mundial de crescimento da procura de petróleo, registando um aumento anual de 1,7 milhão de barris por dia (mb/d) no quarto trimestre de 2023. Isso equivale a mais de 80% do aumento global durante esses três meses”, disse a Agência Internacional de Energia no seu último boletim mensal.

“A procura anual projetada para 2023, de 16,4 mb/d, é de cerca de 1,8 mb/d a mais a cada dia em termos anuais, o que será 2,3 mb/d acima da marca de 2019″, diz a AIE. Ou seja, a China está a consumir 2,3 milhões de barris de petróleo bruto todos os dias a mais do que em 2019, antes da Covid.

A Reuters refere que as refinarias chinesas estão a reservar ativamente cargas de petróleo bruto para entrega em março e abril para reabastecer os stocks, garantindo preços relativamente baixos e antecipando uma procura mais forte no segundo semestre de 2024. Este movimento parece ser o mais acertado: ‘encher’ os depósitos enquanto o petróleo está em baixa – antecipando que as tensões internacionais e a ‘cobiça’ dos países da OPEP vão promover o aumento dos preços a breve prazo.

As dúvidas dos analistas ocidentais face a esta movimentação da China revela por outro lado que as prioridades do poder de Pequim ainda lhes escapam. Mas a China tem demonstrado que sabe o que faz em matéria de médio prazo – até porque não tem sobre si a pressão da necessidade de apresentar balanços vistosos a acionistas.

A decisão de ‘armazenamento’ serve sempre qualquer cenário, uma vez que o mais improvável de todos eles é que se dê uma derrapagem do preço do petróleo nos mercados internacionais nos tempos mais próximos. Para todos os efeitos, enfrentar o futuro com os bidões cheios até cima é sempre a melhor opção.

A procura robusta da China está a sustentar o preço da commodity. “Haverá uma onda de armazenamento durante o primeiro e o segundo trimestres, em preparação para o verão”, disse, citado pelo espanhol “El Economista”, o analista da Kpler, Viktor Katona, repetindo uma tendência já observada em 2023. “Isso fez maravilhas para a China no ano passado e este ano parece mostrar um momento ainda melhor.” A China comprou volumes recorde no ano passado para constituir as maiores reservas de petróleo da sua história.

Além disso, a China aproveitou compras maciças não apenas para antecipar a política de preços da OPEP, mas para obter compras com desconto usando países sancionados.

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