Na actualidade, estamos confrontados com duas tentações.
A tentação de uma certa estatização da economia, no sentido do reforço exagerado do peso do Estado no conjunto do nosso tecido produtivo e dos fluxos económicos, e a tentação neo-liberal do “choque fiscal”, com base no pressuposto da igualdade ex ante entre a poupança e o investimento.
A tentação estatizante, num quadro de relativa estagnação da economia europeia, conduzirá a que o motor do desenvolvimento passe pelo investimento público, tornando mais difícil uma gestão equilibrada das Finanças Públicas, com controle do défice orçamental e da dívida pública, com os efeitos indutores negativos que daí decorrerão para a economia nacional.
A tentação do “choque fiscal”, para além de pressupor um estudo prévio da curva de Laffer para a economia portuguesa, num contexto de abrandamento das nossas exportações para a Europa, a par de uma desaceleração do nosso crescimento, dificilmente será compatível com os compromissos despesistas que certas forças políticas vão assumindo em relação à saúde, à educação, à habitação e ao próprios pensionistas, pelo que, também neste caso, será difícil implementar uma gestão equilibrada das contas públicas.
Roubini demonstrou que o “choque fiscal” posto em prática por Reagan nos anos 80 não contribuiu para acelerar o crescimento económico e que Clinton, com a sua política de aumento da carga fiscal sobre as classes mais favorecidas, não levou à desaceleração do crescimento económico, conseguindo, até, um excedente orçamental.
Em suma, será necessário, num quadro internacional como o actual, com a guerra na Europa, adoptar uma solução de compromisso entre uma certa intervenção do Estado na economia e uma redução temperada da carga fiscal, bem como entre uma dinâmica de crescimento baseada no sector exportador e uma dinâmica assente no investimento em infra-estruturas e na economia doméstica. Só isso permitirá que se continue com uma boa gestão das Finanças Públicas.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.