Quando tenho um pensamento crítico, gosto de me imaginar fora da bancada. Ser treinador de bancada é fácil. Nesta fase de eleições e programas de Governo, é natural que o espírito crítico aumente, quer porque estamos diretamente envolvidos nas eleições quer porque queremos ver as nossas condições de cidadão, melhoradas.
Então, agucei o engenho mental e coloquei-me a questão: que faria eu se fosse candidato a primeiro-ministro (PM)?
Naturalmente que se tomariam medidas sérias para obter melhorias, a curto prazo, em áreas como Justiça, Educação, Saúde, Segurança Pública e Habitação. Claro que sim, mas, a estas áreas tomadas como evidentemente críticas, elejo uma mais. A minha menina dos olhos d’oiro: aumento da riqueza de cada cidadão. O que sobra no final do ano a cada trabalhador, em casa de cada família.
Ora bem! A riqueza da maioria das pessoas vem essencialmente do trabalho e não do empreendedorismo dos negócios, por isso, se as pessoas não virem a sua riqueza aumentada com expressão, os empresários/empreendedores afastar-se-ão em riqueza. O país aumenta o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, com a classe média a encostar-se aos mais pobres.
As medidas que tenho visto nos programas dos partidos, se nada me escapa, são essencialmente medidas políticas de “sobe e desce”, taxas e impostos, de “corta aqui e corta acolá” para pagar menos isto ou aquilo, um limite para uma coisa, uma garantia para outra, enfim, soa-me a um teclar de Excel, com opções políticas, claro, mas na fé de um crescimento da economia de 1,2, ou 3%.
Fé. Fé e migalhas. Sinceramente, migalhas.
Não é mau, as pessoas vão ter mais qualquer coisa, mas, objetivamente, o que é que o salário médio português sobe face a uma inflação que se estima de 2%?
Seguramente insignificante para a riqueza de cada cidadão.
Não é mau, mas, nada do que vejo em medidas faz com que o país saia da cauda “mundial” da produtividade do trabalho. A fraca produtividade é o eterno problema do país. Sem ela não há competitividade. Portugal é dos países com menor produtividade o que quer dizer que dificilmente poderá pagar melhor às pessoas que trabalham. O aumento da produtividade é crucial para elevar a economia a longo prazo e enriquecer as pessoas.
Para não esticar mais as horas de trabalho das pessoas, crescer a economia do trabalho é fazer mais com o mesmo, produzir mais com as mesmas pessoas, com as mesmas horas trabalhadas…ou até menos. E isso só se faz com inovação tecnológica.
Sem medo!
Caso contrário, pode não haver desemprego mas não quer dizer que as pessoas fiquem mais ricas. Fica-se num nível de sobrevivência, a andar para a frente, dia após dia, empurrando com a barriga, vivendo cada dia com receio do amanhã, numa tristeza, melancolia que só faz aumentar os níveis depressivos da população.
Já perceberam que se fosse candidato a PM teria como desígnio a oito anos, o seguinte:
aumento da produtividade do trabalho em paralelo com o aumento da riqueza dos cidadãos.
Uma coisa está ligada à outra, naturalmente, e têm de ser medidas em paralelo, têm de evoluir ao mesmo tempo. Daí que teclaria o Excel do Orçamento do Estado em medidas que motivassem, efetivamente, as empresas a impulsionar a produtividade e a aumentar a massa salarial, ou seja, os salários.
Pediria aos especialistas que me acompanham, motivadíssimos em fazer um plano ganhador, para substituir a ideia de ganhador por reformador. Fazer um Plano e Orçamento Reformador da Economia Nacional, através de incentivos fiscais e financeiros, assente em Garantias e Fundos, Redução e Isenção de Taxas e Impostos, desde logo IRC e TSU, para transformar o tecido empresarial nacional e aumentar a riqueza de todos os que trabalham.
Deixo exemplos, como:
– Fomentar as fusões entre empresas para baixar a percentagem de PME e aumentar o formato de grupo. Os estudos evidenciam que as empresas em formato de grupo têm um efeito escala que permite poupar em muitos custos e assim canalizar verbas para as pessoas. Mesmo emprego, mas em empresas mais robustas.
– Fomentar o investimento na própria empresa e não propriamente atrair empresas de fora. A taxa de desemprego atual não aparenta necessidade de investimento novo, por isso, é uma oportunidade para apostar em investimento nas empresas existentes. Transformar o atual. Criar condições para que as empresas possam recorrer a investimento tecnológico produtivo, sem medo do risco de endividamento. Máquinas, tecnologia, software, hardware, infraestruturas, isto é, elevar a produção nacional a níveis de competitividade mundial. Que o melhor de lá também se faça cá.
– Fortes incentivos à formação. A legislação que obriga a formação tem sido um buraco. Não é pela obrigatoriedade que vamos lá mas sim pelo estímulo, pela motivação, pelo querer saber mais e ser melhor. Pagar às pessoas que façam horas de formação, por exemplo, e até melhorar seus contratos. Ambos, empresa e trabalhadores, têm de sentir a formação estimulante e enriquecedora.
– O crescimento do salário médio de cada empresa seria alvo de bonificação, ou seja, crescendo acima do “valor de referência” do Governo, teria compensação, por exemplo, ao nível da TSU.
– Os prémios de produtividade aos trabalhadores seriam líquidos (de IRS e TSU) durante uns anos, desde que a empresa apresentasse um sistema de prémios formal. Isto para fomentar uma cultura de uso de um sistema que meça a produtividade e remunere essa produtividade, evitando decisões de gestão avulsas e sim, oriundas de um sistema como o da Garantia da Qualidade.
– Indexar o salário dos órgãos sociais e de gestão ao salário médio da empresa para evitar que cargos de topo ganhem “multiplicadores” absurdos face à população da própria empresa. Se houver um fator multiplicador, este será um indexante que estimulará a que tudo cresça num paralelismo saudável.
Em suma, estas medidas e outras como um desígnio nacional para a economia das empresas e do trabalho, numa ambição de reindustrializar Portugal a partir do seu próprio talento e competência.