A recente agressão russa às embarcações da Ucrânia ressuscita a discussão sobre a segurança e defesa europeia. As vozes sobre a criação de um exército europeu sobem de tom na proporção que surgem comentários sobre a necessidade de aumentar as contribuições financeiras nacionais para a NATO. Em simultâneo, o Presidente Trump ameaçou reduzir a sua participação ou mesmo abandonar a organização.

As forças armadas são um dos pilares da soberania nacional e não se demonstra adequado dela prescindir para integrar umas forças armadas europeias. Há muito tempo que existem comandos e exercícios conjuntos mas, uma coisa é participar com a sua legitimidade nacional, e outra integrar um sistema único europeu.

Este crescendo de posição para um exército europeu surge em contraciclo. Quando crescem os sentimentos nacionalistas, defender um exército europeu apenas oferece novos argumentos àqueles que se opõem à integração europeia.

Emmanuel Macron e Angela Merkel surgem como os principais impulsionadores desta tese. Contudo, a discussão emerge mais para contrapor uma posição à exigência dos compromissos financeiros europeus e, em termos de despesas com a NATO, os estados estão longe de investir os 2% do PIB que aceitaram, mais do que se estar em condições de criar um exército que juntasse os europeus.

Criar uma força europeia exigiria um investimento tão elevado que poucos seriam os estados na disposição de perder o seu espaço de autodeterminação financeira e estratégica nos custos na defesa do seu país. Qualquer ensaio neste domínio estaria condenado ao fracasso imediato. O risco seria criar mais um mecanismo de participação parcial de Estados-membros, à semelhança da zona euro ou do espaço Schengen.

Acresce ainda que a ideia de criar um exército convencional num tempo em que as ameaças têm uma dimensão mais alargada e menos territorial faz perder força a esta tese. Apenas os países do leste europeu, que se podem sentir mais ameaçados pela proximidade russa, serão os grandes defensores deste projeto. Porém, olhando à ineficácia da resposta tradicional à invasão da Crimeia deixa bem patente que a ação, mesmo coordenada, à agressão passa pela dissuasão e pela via diplomática e económica.

Mesmo aos EUA e à NATO esta tese não deve gerar grande simpatia. A NATO quer manter e reforçar o seu papel de agente dissuasor, enquanto os EUA, apesar das críticas e exigências, querem continuar a desempenhar um papel determinante dentro da organização, que estrategicamente representa o espírito do mundo livre que dominou a segunda metade do século XX.

O papel que as forças armadas desempenham em cada país tem uma dimensão semelhante ao orgulho na bandeira e no hino respetivo. Tirar este espaço a um país é tirar a honra e a dignidade nacional. E isso nem o projeto europeu pode ter a pretensão de alguma vez fazer.

As ameaças à segurança europeia não têm uma dimensão estritamente militar, mas têm uma dimensão interna. Entre terrorismo e migração ilegal devemos refletir e contribuir para a política de segurança e de defesa europeia de forma decidida, em consenso na estratégia, com a integração em operações conjuntas mas mantendo as nossas forças armadas firmes e empenhadas nos esforços de defesa das fronteiras externas e apoiando as tarefas de segurança interna quando necessário.