Portugal continua a ser um país adiado cinco décadas após a Revolução de Abril. Apesar das muitas conquistas que marcam a nossa caminhada colectiva, tardamos em afirmar-nos no plano económico internacional. Este fado resulta, em grande medida, da nossa paupérrima produtividade por trabalhador, a qual é actualmente 19,5% inferior à média dos países da Europa a 27, deixando Portugal a invejar países como a Chéquia, a Eslovénia ou a Roménia nesta matéria. As consequências desta situação ficam bem espelhadas no nosso PIB per capita, que continua teimosamente 17% abaixo da média comunitária (em paridade de poder de compra).
Mudar o status quo requer actuar em várias frentes e padece de vários obstáculos como, por exemplo, a falta de investimento em tecnologia e inovação. Não estranha, por isso, que a nossa especialização se faça cada vez mais em torno de sectores de baixo valor acrescentado, os quais oferecem remunerações do trabalho tendencialmente desinteressantes. Esta realidade é preocupante e entronca no desafio demográfico, o qual se constitui como o obstáculo mais significativo à mudança do nosso paradigma (social e) económico.
Portugal está envelhecido, apresenta recorrentemente saldos naturais negativos e assiste impávido e sereno a sucessivas vagas de emigração jovem. A prazo, estes factores colocam em causa o nosso contrato social, pressionando significativamente o mercado de trabalho e a sustentabilidade da segurança social. Apenas a forte imigração alivia, conjunturalmente, os efeitos desta situação. Subsistem, no entanto, dúvidas fundadas sobre a nossa real capacidade para integrar estas novas comunidades, algo que pode vir a gerar custos sociais significativos.
Lamentavelmente, os obstáculos à mudança do paradigma económico não se ficam por aqui. Na verdade, dependemos do financiamento externo, algo que, apesar do chapéu da moeda única, nos torna vulneráveis aos apetites dos mercados financeiros. Importará, pois, manter o rigor na gestão das contas públicas para evitar o regresso a tempos recentes, nos quais os desequilíbrios sistemáticos e profundos nas contas do Estado se constituíam como um verdadeiro garrote ao desenvolvimento económico e social do país.
Resta-nos actuar de forma assertiva nas matérias que dependem apenas da nossa vontade. Neste domínio, é confrangedor olhar para o que se passa na justiça, algo que gera custos de contexto e de reputação que não podemos suportar. Da mesma forma, importa também simplificar o nosso sistema fiscal, tornando-o amigo do investimento.
É igualmente imperativo repensar a administração pública, capacitando-a para o século XXI e tornando-a capaz de gerar valor para o país. Urge refundar o nosso sistema de ensino já que, em boa medida, este é o principal veículo de que dispomos para assegurar a nossa capacidade de competir internacionalmente. Seremos capazes de criar um País à altura das justas aspirações dos nossos netos? Apenas o tempo e as nossas escolhas o dirão.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.