E se lhe dissessem que pode saber o futuro. Quereria saber ou seria demasiado assustador? A avaliar pela reação da sociedade ao “Ageing Report”, o relatório produzido pela Comissão Europeia que analisa as tendências demográficas e a sustentabilidade das finanças, ninguém quer saber.
Não é preciso ler as 358 páginas do relatório, basta uma, a 320, mais precisamente a “Gross replacement rate at retirement” (earnings-related public pensions) ou seja, quanto é que vou receber na reforma quando comparado com os últimos rendimentos auferidos.
No caso português, quem se reformar em 2050, irá receber em média 38,5% do rendimento que tinha antes de se reformar. Estamos a 26 anos deste choque de realidade que vai afetar toda a sociedade e irá, seguramente, colocar em risco a democracia, que falhará se não conseguir responder atempadamente a um problema que é conhecido há décadas.
Temos de nos perguntar se conseguiremos viver com 385 euros por cada 1.000 euros que ganhamos. A resposta parece óbvia, mas é difícil pensar que este cenário se pode tornar uma realidade. O pior é que a segurança social tem sido utilizada como arma de arremesso político, paralisando qualquer um que pense em “reformar” graças à iliteracia financeira dos portugueses.
Tendo em conta este cenário, foi com total estupefação que li as declarações de um partido, que apoiou um governo recente em Portugal: “Trabalho não pode ser uma prisão, nem condenação! Trabalhar menos e viver melhor. Quatro dias por semana, licença de cinco dias para adultos com crianças a cargo e 25 dias de férias.”
Mas em que mundo vive esta gente? E a quem quer enganar? Não será o endividamento e a falta de dinheiro da reforma a maior prisão de todas? Não será melhor trabalhar no aumento de oferta e não, continuamente, na procura gerando inflação num ciclo interminável?
Quantos portugueses não têm neste momento outros trabalhos complementares para poderem ter uma vida melhor? Basta olhar para o setor da saúde! Menos horas de trabalho são na realidade mais horas disponíveis para procurar um complemento com outro trabalho. Isto é que é vida?
Talvez faça sentido para quem não gosta de trabalhar, como parece ser o caso, que o trabalho seja uma prisão, mas depois da publicação de um relatório que nos informa que a sustentabilidade da segurança social está ameaçada, que o valor da reforma vai ser miserável, a solução não deveria ser trabalhar menos e nada reformar na segurança social. A seriedade do assunto assim o obrigava.
Como irão as empresas sobreviver, para não falar do próprio Estado que teria de lidar com a contratação de trabalhadores especializados, os mesmos que emigraram, para manter o funcionamento das escolas, saúde, justiça? Não será este o sinal da destruição de uma nação e da própria democracia?