A realidade nacional é que os salários são baixos em Portugal. Na minha perspetiva um país não pode ser considerado desenvolvido se tiver a esmagadora maioria da sua população a viver com baixos salários. Ou seja, o caminho passa por aumentar a nossa capacidade produtiva para que a economia possa crescer em benefício dos empresários e dos trabalhadores.
No continente europeu, o Luxemburgo é o país que tem o salário médio mais elevado (47 euros/hora), enquanto em Portugal o valor é de 13,7 euros/hora.
De acordo com os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em Portugal, o rendimento médio mensal é de 918 euros, ou 11,014 euros por ano (dados de 2022).
Um dado interessante – mas ao mesmo tempo preocupante – tem a ver com os salários que classificam um particular ou uma família como classe média. Também segundo a OCDE, 60,1% da população portuguesa está na classe média, o que podia até ser algo de muito positivo, porque significaria que mais de metade da população portuguesa tinha o poder de compra necessário para satisfazer as suas necessidades. Lamentavelmente não é verdade.
As métricas que sustentam estes 60,1% revelam que para pertencer à classe média em Portugal basta um trabalhador auferir 688 euros líquidos por mês. E que quem recebe menos de 688 euros líquidos por mês é considerado classe baixa.
Face ao valor base de 688 euros líquidos mensais, não é por acaso que os dados da OCDE também mostram que a classe média portuguesa é uma das que tem menos poder de compra na União Europeia.
Mas façamos o seguinte exercício: como é que um casal com dois filhos, ambos com um vencimento mensal de 688 euros, o que totaliza 1376 euros líquidos mensais, é considerado classe média? 344 euros é a quantia disponível se dividirmos pelos quatro elementos da família.
Como é que esta família catalogada como classe média consegue pagar a habitação, energia, estudos, transportes, roupa…? Claro que em muitos casos não consegue e por isso os pais têm de recorrer a dois ou mais empregos para terem uma vida minimamente condigna. Em Portugal, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, temos 262,4 mil portugueses que revelam ter um segundo emprego.
As métricas e os números da OCDE são invocados por diferentes agentes políticos para justificar determinadas decisões políticas que manifestamente estão desajustadas da realidade. O problema não está só nas métricas da OCDE, mas no esmagamento a que a classe média tem sido sujeita nas últimas duas décadas.