A manchete da semana passado do “Expresso” era “Portugal tem de gastar 5 mil milhões de euros em aviões de guerra ou ‘perde a soberania aérea’”.

Antes de mais, tem que se reconhecer que há dois tipos de pressões para aumentar a despesa na defesa. Por um lado, a invasão russa da Ucrânia fez aumentar os receios de novos conflitos, tendo mesmo levado a Suécia e a Finlândia a deixarem a política de neutralidade de décadas. Por outro, do lado dos EUA, há uma disponibilidade decrescente de arcar com os custos da defesa da Europa, que terá que ser suportada pelos europeus.

Dito isto, não pode haver um aumento do orçamento da Defesa sem qualquer reforma estrutural nas Forças Armadas e nos seus gastos. Em primeiro lugar, o quadro de pessoal, sobretudo dos oficiais superiores, ainda não se adaptou ao fim da guerra colonial, o que não é aceitável.

Genericamente, temos excesso de pessoal superior, falta de voluntários, falta de manutenção de equipamento militar e, provavelmente, carência de actualização do equipamento.

Não cumprimos a meta da NATO de gastos de 2% do PIB em defesa, meta essa que quase nenhum país europeu cumpre e que também não é muito racional, porque se baseia no que se gasta e não no que se obtém desses gastos. Mais grave e absurdo é não cumprirmos uma outra meta da NATO, muito menos divulgada, de gastar um mínimo de 20% em equipamento.

Como é que se gasta proporcionalmente tanto em pessoal e não há salários suficientemente atraentes para conseguir voluntários? Muito provavelmente porque há excesso de pessoal e dirigentes onde não são necessários.

Faz sentido a prioridade de comprar novos aviões caríssimos? E ter tanques que não funcionam? E helicópteros que não voam? E aviões com as revisões em atraso? E navios sem condições de navegar?

Finalmente, tem que se falar sobre a corrupção nas Forças Armadas. Quantos militares já foram condenados e cumpriram pena de prisão devido a processos de corrupção dos mais diversos, mas sobretudo na compra de material, que muitas vezes representam vários milhares de milhões de euros? Será que temos excesso de aquisição de material novo, em detrimento de reparações correntes do material existente, porque aquele proporciona “comissões” muito superiores?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.