Tudo começou com a posição ambígua do Reino Unido em relação ao projeto europeu. Mais do que um problema, era uma condição de base.

O referendo – uma ferramenta discutível da democracia – foi convocado por David Cameron para reforçar o seu poder ao pacificar a ala antieuropeísta dos Conservadores e pressionar a UE a melhorar os termos da relação entre a União e o Reino Unido. Um bluff, porque Cameron não queria sair, mas depois teve de ir a jogo. Não acreditando no bluff do referendo, as cedências pífias da UE na imigração e transferências financeiras contribuíram para a sua realização.

Nigel Farage e Boris Johnson, como muitos outros, fizeram campanha pelo Brexit para benefício próprio, acreditando que iriam perder a votação – outro bluff. Depois, o terreno de jogo mudou para as negociações do acordo de saída, com Theresa May a ser o vértice entre o Parlamento britânico e Bruxelas, com todos a esticar a corda.

May precisa de sobreviver, Bruxelas quer fazer do Reino Unido um exemplo e os deputados pensam nas próximas eleições na Escócia, na Irlanda do Norte ou em todo o país, no caso dos Trabalhistas.

Aparentemente, os jogos continuam. O problema é que as fichas somos nós.