Estamos a viver a quarta revolução industrial, um fenómeno global que exige uma compreensão profunda dos seus impactos na economia, especialmente na economia portuguesa.

Esta análise é fundamental para assumirmos um papel mais ativo no contexto europeu e contribuirmos para o processo de reindustrialização em curso, que se torna cada vez mais urgente numa economia global polarizada entre os EUA e a China. Se algumas dúvidas ainda persistiam, a pandemia de Covid 19 sublinhou a importância estratégica de certos setores industriais localizados fora da Europa, tornando imperativo trazê-los de volta para casa.

Para entendermos o momento atual, é útil olharmos brevemente para as três revoluções industriais anteriores:

A primeira, ocorrida no final do século XVIII em Inglaterra, destacou o potencial do carvão como fonte de energia, impulsionando a invenção da máquina a vapor e da locomotiva, e estimulando a migração da mão-de-obra agrícola para a indústria, promovendo a urbanização.

A segunda revolução, cerca de um século depois, testemunhou a descoberta da eletricidade, do gás e do petróleo, impulsionando o desenvolvimento do motor de combustão e tecnologias de comunicação, como o telefone, acelerando a produção em massa e ampliando o acesso a produtos para novos consumidores.

A terceira revolução, a partir dos anos 70 do século XX, introduziu a tecnologia da informação e a automação na produção industrial, junto com o desenvolvimento da robótica e da capacidade de processamento digital de informações.

Na atual 4ª revolução industrial, iniciada na Alemanha na segunda década deste século, observamos mudanças significativas impulsionadas pela inteligência artificial, digitalização, automação, Internet das Coisas (IoT), Big Data e computação em nuvem, entre outros. Estes avanços estão a catalisar uma inovação sem precedentes, promovendo o desenvolvimento económico e o bem-estar social. É essencial que não fiquemos para trás nesta nova revolução industrial, por medo ou inércia, e que a Europa se regenere como um dos motores da economia global.

Paralelamente às revoluções industriais, o mundo tornou-se cada vez mais globalizado, com a transferência da manufatura para países asiáticos, especialmente a China. No entanto, após a pandemia por Covid 19, ficou evidente a necessidade de um renascimento industrial na Europa e no Ocidente, especialmente devido aos desafios enfrentados com a escassez de produtos essenciais provenientes da China.

O retorno da indústria aos países ocidentais oferecerá novas oportunidades de emprego qualificado e reduzirá os riscos associados ao encurtamento das cadeias de abastecimento, proporcionando maior autonomia em setores estratégicos. Tanto os EUA, com o Ato de Redução da Dependência Industrial, quanto a União Europeia, com “um plano industrial para a era das emissões zero de CO2”, reconheceram a importância deste fenómeno e estão a adotar políticas para promover a produção interna e a competitividade em setores estratégicos, como energia, tecnologia e transição climática.

Estas medidas visam incentivar a inovação e o retorno da atividade industrial de forma sustentável ao Ocidente, e devem ser colocadas como um imperativo na agenda nacional, visando um desenvolvimento económico mais sustentável, robusto e equilibrado. Nas últimas décadas, observamos uma economia nacional predominantemente baseada no setor terciário, com cerca de 70% dos empregos, enquanto o setor secundário permaneceu em torno de 24% em termos de empregos.

Este modelo não nos permitiu uma estrutura económica equilibrada, tornando-nos um país de baixo valor acrescentado e, consequentemente, de baixos salários em comparação com outros países europeus, resultando numa queda no ranking dos países da União Europeia em termos de PIB per capita nos últimos anos. Pese embora a subida de dois lugares no ano passado, Portugal está aquém da 15ª posição que ocupava em 2000.

A indústria que devemos atrair para o nosso país não é aquela que se deslocou para países com mão de obra mais barata no final do século passado, mas sim uma indústria de elevado valor acrescentado, capaz de fornecer bens e serviços de forma integrada. Isso implica uma mudança significativa de paradigma, passando de uma oferta exclusiva de produtos industriais para a venda de serviços associados a produtos de elevada complexidade.

Esta mudança pode impulsionar as exportações nacionais de bens transacionáveis e criar ecossistemas de conhecimento transformacionais para a nossa economia, colocando Portugal na vanguarda dos países economicamente mais desenvolvidos, o que é seguramente o nosso desejo comum.