Selecionar as pessoas, entrevistá-las e organizar a aprovação dos papéis juntos dos consulados. Tudo dentro do mais escrupuloso respeito pelas pessoas e pela lei portuguesa e local, o que implica recusar a interferência de intermediários locais, até porque podem estar ligados ao tráfego de pessoas.

Falta um detalhe importante: a comissão pelo serviço tem de ser paga por quem contrata, pela empresa e não pelo trabalhador, devendo as condições do acordo serem desde logo apresentadas. Tudo transparente. Isto parece-lhe errado? Parece-lhe um abuso? Eu diria que não, que não é, até porque esse negócio já existe em Portugal e pelo mundo fora em grande e em pequena escalas. Podemos chamar-lhes head-hunters, caça-talentos de pessoas mais qualificadas; ou então empresas de recrutamento que se dedicam a empregos em regra mais simples e com grande rotatividade. Havendo esta solução, fico espantado com o tom das críticas que os partidos da oposição fizeram às medidas apresentadas pelo governo.

O caos actual é não apenas chocante, é violento para as vítimas — presas no limbo interminável —, e é uma peçonha para o Estado português. Na verdade, é o retrato do costismo no seu melhor: deixar andar, navegar à vista, bolinar e deslizar… deslizar… até porque isso pode dar politicamente jeito. Extinguir o SEF mostrou músculo — embora fraca inteligência—, e inchou o venturismo que tanto espaço tirou ao PSD, um bónus obviamente apetitoso. Simplismo meu? Talvez, embora a prática de António Costa tenha sido esta uma e outra vez.

O drama das 400 mil pessoas que cirandam por aí será, portanto, provavelmente resolvido, coisa impossível com a lei anterior. Se os consulados forem reforçados para dar resposta ao volume de trabalho administrativo e se os empresários se organizarem… nascerão as tais empresas de contratação. Se surgirem outros problemas, o governo terá de ser veloz na ação. Sobra a dimensão de segurança interna: compete às polícias pressionar as redes de tráfego humano.

É um trabalho sem fim e é difícil, mas é fundamental. Não há solução mágica e instantânea, mas há caminho a fazer. Os imigrantes são precisos, são bem-vindos, contribuem muito para a nossa vida em comunidade. Enriquecem a nossa cultura. Enquadrá-los é prova de respeito — não o contrário.