Podemos falar em dois tipos de recuperação da queda da pandemia: i) recuperar o nível de PIB do 4º trimestre de 2019; ii) recuperar o nível de PIB que teríamos se não tivesse havido pandemia.

O primeiro critério é o menos exigente, e Portugal atingiu-o no 1.º trimestre de 2022. O segundo critério é mais exigente mas também mais relevante, porque corresponde a recuperar a posição na trajectória crescente que a economia vinha percorrendo. Entre 2016 e 2019, a média de crescimento foi 2,8%, mas não podemos usar este valor para estimar a tendência de médio prazo, porque a economia ainda estava a recuperar da crise anterior. Faz mais sentido uma tendência de 2%, próximo da que o Conselho de Finanças Públicas usa.

Usando esta referência, no 1.º trimestre de 2024, o PIB ainda está 2,4% (6,7 mil milhões de euros) abaixo do que seria se não tivesse havido pandemia, pelo que ainda não recuperámos completamente desta perturbação.

É verdade que na UE também não houve esta recuperação, mas o que isto significa é que o referencial que estamos a considerar para falar de convergência é muito pobre, pelo que crescer umas décimas acima da média comunitária é muito insatisfatório. Em contrapartida, os EUA já estão na trajectória anterior à pandemia, um referencial mais ambicioso, que deveríamos adoptar.

Em relação à qualidade do crescimento, também não temos boas notícias. No 4.º trimestre de 2019, tínhamos uma taxa de desemprego de 6,9% e já estamos melhor que então (6,8% no 1.º trimestre de 2024), mas em termos de produtividade os resultados são maus: caiu 0,3% em termos homólogos no 1.º trimestre deste ano, quando tinha crescido 0,9% nos dois trimestres precedentes. Isto sugere que estamos a criar empregos pouco qualificados e com baixa produtividade, em parte por efeito de assistirmos a emigração significativa de jovens qualificados e recebermos imigrantes de países pouco desenvolvidos. Se continuarmos com esta tendência, teremos muita dificuldade em subir salários e em convergir com a UE.

Só com crescimento acima dos 2% conseguiremos recuperar da pandemia e não há praticamente nenhuma instituição que o preveja nos próximos anos. Só o programa da AD o previa mas, para isso, seria necessário aprovar um conjunto de reformas estruturais, o menos diluídas possível da sua versão original, e que estas tenham o impacto significativo esperado.