As notícias de Beijing têm sido positivas. A economia chinesa, segundo o Fundo Monetário Mundial, deverá crescer 5,5% em 2024, a sonda pousou, com sucesso no lado oculto da Lua pela primeira vez na história, e a Cúpula com os países árabes teve avanços importantes.
Também no IISS Diálogo de Shangri-La, os chineses relembraram o mundo que foi a atuação dos Estados Unidos, ao forçar a NATO para incluir a Ucrânia no acordo, que levou a guerra que aflige milhões de pessoas, além da ação diplomática equivocada em Gaza. Os chineses ainda emitiram um relatório demonstrando que os Estados Unidos perderam, já há algum tempo, o título de campeão de direitos humanos.
A deterioração hegemônica norte-americana tem aumentado substancialmente nas últimas décadas. Talvez o período de unipolaridade, logo após o fim da Guerra Fria com o colapso da União Soviética, constitua o ponto inicial desse declínio. Após esse período, notou-se um abuso substancial nas medidas de intervenção forçada em várias partes do mundo, sob o argumento de democratização e num abuso da confiança depositada.
Intervenções como a Guerra do Iraque, sob o falso argumento da existência de armas de destruição em massa, a atuação desastrosa na Líbia, a linha vermelha a Bashar al-Assad na Síria, as tragédias de Ruanda e do Sudão, além de uma crise financeira devastadora em 2007, que levou milhões a um empobrecimento global por irresponsabilidade nas políticas econômicas, paulatinamente retiraram dos Estados Unidos a confiança construída no passado.
O fato é que o declínio norte-americano está levando consigo os países que têm adotado as posições de Washington. Será que decisões advindas de Washington levam, de fato, em consideração, os melhores interesses de seus aliados?
Erra na União Europeia quem busca uma guerra comercial contra a China. Os argumentos emprestados dos Estados Unidos de que a China está utilizando de seu excesso de capacidade e concorrência desleal pretende frear o processo de globalização, com a retomada do protecionismo. Expressões como “de-risking”, “friendly-shoring” e “near shoring” nada mais visam do que criar atritos comerciais para reverter a globalização, que melhorou substancialmente a qualidade de vida global.
Mais do que nunca é necessário um novo roteiro de cooperação na relação China-Europa para vencer as distâncias políticas, apoiar o multilateralismo e avançar na reforma da governança global. Uma Europa, de fato, independente, seria uma peça fundamental no processo.