O resultado da eleição para o Parlamento Europeu não deve ter deixado ninguém satisfeito na Europa.
Em Portugal, o mais positivo foi a descida da abstenção, possivelmente impulsionada pela facilidade de votação em mobilidade e talvez por arrastamento da mobilização nas eleições legislativas. Mas apesar das declarações dos principais responsáveis das forças políticas concorrentes, que tentaram por todas as formas encontrar virtude nos resultados atingidos, na realidade, todos – talvez com a excepção da Iniciativa Liberal – tiveram mais razões para sentirem que esses resultados souberam a pouco.
Na Europa confirmou-se o crescimento da direita radical, eurocéptica e nacionalista, mais notório em Franca e na Alemanha, mas menor do que o que a generalidade dos observadores temia.
Ursula von der Leyen, que previa não conseguir reunir uma maioria que a apoiasse para um segundo mandato, chegou a admitir fazer cedências aos Grupos Conservador e Reformista ou Identidade e Democracia. Entretanto, esse risco pode estar atenuado. O seu Partido Popular Europeu, que aumentou o número dos mandatos, com o apoio do Grupo Renovador (que perdeu 23 lugares em virtude do descalabro provocado pelo resultado do Partido de Macron em França) e dos Socialistas e Democratas, não deverá ter dificuldade em garantir a sua reeleição.
Mas mantêm-se as preocupações pela sustentação de alguns dos programas mais ambiciosos lançados pela União, sobretudo em matéria ambiental e social. E o quadro geral resultante não deixa de criar algumas preocupações relativamente ao futuro.
As eleições legislativas que Macron marcou para 30 de Junho podem resultar numa alteração fundamental da dinâmica que a cooperação entre Paris e Berlim tem vindo a dar à União Europeia. Nesse quadro, será de temer pelo menos uma pausa no processo de integração europeia e um reforço da ideia da Europa das Nações.
Essa ideia não tem nada de novo. Pelo contrário, é herdeira directa da Ordem Internacional resultante dos Tratados de Vestfália, do século XVII, de que nasceu o princípio do equilíbrio do poder entre as principais potências, renovado no Tratado de Viena de 1815, após as perturbações do período napoleónico, e no Tratado de Versalhes, em 1919.
Nesse período alimentou as tendências e ambições hegemónicas das grandes potências, o desenvolvimento do militarismo e das tendências imperialistas e uma permanente instabilidade no quadro das relações internacionais, resultante da necessidade de alterações periódicas das políticas de alianças em função do crescimento militar e industrial de umas nações ou de outras.
Está ainda na origem das revoltas nacionalistas verificadas no século XIX nos Impérios Russo, Otomano e Austríaco e dos processos de unificação italiana e alemã, que por sua vez resultaram na criação dos dois grandes blocos – por um lado, a “Triple Entente” entre a Rússia, a França e Inglaterra e, por outro, a “Tríplice Aliança” da Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, a que mais tarde se juntou o Império Otomano, e que se enfrentaram na Primeira Guerra Mundial. E esteve também na base da Segunda Guerra Mundial.
O nacionalismo na Europa tem uma história triste e pesada. Não há razões para crer que nesta nova reencarnação venha carregada de virtudes que afastem a ameaça de o resultado ser o mesmo. A integração económica, que para funcionar perfeitamente carece de uma maior integração política, continua a ser a nossa melhor garantia da paz.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.