A cerca de quatro meses do novo aeroporto internacional de Luanda entrar em serviço (13 de Outubro), Paulo Nóbrega, coordenador da Gabinete Operacional do Novo Aeroporto Internacional de Luanda (GONAIL), garante que tudo estará a postos, não ignorando a tarefa logística complexa e gigantesca que implicará fechar às 00:00h de dia 12 de Outubro o Aeroporto “4 de Fevereiro” e ter a nova infra-estrutura aberta às 00:01h, a 45 km de distância, envolvendo 200 camiões a transportar material de um lado para o outro.
Contudo, olhando para lá do imediato e da azáfama dos últimos meses para ter o aeroporto Dr. Agostinho Neto operacional com “um serviço que seja também de cinco estrelas”, Paulo Nóbrega não tem dúvidas a projectar que “vai haver uma Angola antes do aeroporto e uma Angola depois do aeroporto”.
Paulo Nóbrega, que falou no painel “Como potenciar esta superestrutura (aeroporto internacional de Luanda)” da conferência “Doing Business Angola 2024”, organizado pela Forbes África Lusófona e Jornal Económico, sublinha que o impacto do aeroporto na economia do país será tremendo, com as repercussões a fazerem-se sentir em todos os sectores, incluindo no primário: “Terá impacto na agricultura, pesca, marisco. Tudo o que for produzido pode ser exportado” para mais mercados. “Temos de juntar à volta do aeroporto tudo o que se faz bem [em Angola]”, aponta.
O Coordenador do GONAIL frisa, neste contexto, que as acessibilidades, quer rodoviárias, quer ferroviárias que estão a ser ultimadas, irão garantir fluidez ao aeroporto. “Demorar uma hora ou uma hora e meia a chegar a um aeroporto num qualquer local do globo é algo normal”, diz Paulo Nóbrega, desvalorizando a quase meia centena de quilómetros de distância do novo aeroporto.
Paulo Nóbrega afirma que também haverá “oportunidades de investimento em torno do aeroporto”, existindo “amplos terrenos disponíveis para entidades que precisem de terrenos para desempenhar a sua actividade de apoio à infra-estrutura aeroportuária, como uma DHL e empresas concorrentes, como aquelas que fazem manutenção de aeronaves”.
“O Estado angolano investiu no aeroporto não para ser ressarcido, mas para dinamizar a economia angolana”, enfatiza Paulo Nóbrega.
O coordenador do GONAIL deu o exemplo dos helicópteros, cuja manutenção e pintura, é realizada em Paris e a nova infra-estrutura de Luanda permite que passe a poder ser feita em Angola.
Este responsável lembra que o novo aeroporto de Luanda estará a ser utilizado por 15 milhões de passageiros dentro de dez anos, num cenário conservador “que, para mim, se concretizará mais cedo”. E com isso “abre-se um vasto leque de oportunidades para se investir em hotéis, edifícios de escritório e restaurantes. Teremos ali 15 milhões de pessoas a passar todos os anos, com as necessidades inerentes a esse movimento”, insiste.
Miguel Carneiro, Administrador não-executivo da TAAG, subscreve a opinião de que o novo aeroporto de Luanda terá um efeito transformador não apenas para o país, mas para a região.
No plano da própria TAAG, a expectativa da empresa é duplicar de 1,7 milhões de passageiros para 3,2 milhões de passageiros com o novo aeroporto.
Orador no mesmo painel, Miguel Carneiro deu a saber que a TAAG está também a preparar-se para esta nova era trazida pelo aeroporto, tendo um “processo de transformação em curso que passa pela renovação da frota, com aviões de última geração numa lógica de interconectividade com toda a região”.
“Teremos Airbus para fazer ligações regionais, abrir novas rotas e evitar que alguém que tenha de ir para Abidjan [Costa do Marfim] tenha de fazer escala em Paris, por exemplo”, anunciou o responsável da companhia aérea angolana.
Miguel Carneiro assume que a TAAG quer tirar proveito do contexto regional, lançando para cima da discussão dois números que atestam a posição geográfica estratégica de Angola e como isso lhe confere um potencial económico de relevo: numa lógica transfronteiriça, Angola pode abranger 450 milhões de habitantes e se alargarmos o raio a três horas de ligação aérea temos mil milhões de pessoas.
“A partir de Angola temos acesso aos mercados vizinhos e nesta plataforma chamada Angola podemos domiciliar empresas e negócios”, afirma.
Esta é uma “oportunidade equivalente à oportunidade que ocorreu no século XIX na América, com infra-estruturas várias que dão abertura à lusofonia, é certo, mas também dão uma oportunidade de penetrarmos em mercados para lá da lusofonia e que têm uma grande demanda”.
“A lógica do mercado angolano não é um mercado de destino, mas uma plataforma de entrada para o mercado africano”, diz Miguel Carneiro.
Acenando a investidores, Miguel Carneiro diz que em Angola há sectores de actividade e negócios com bons níveis de crescimento (“deverão haver poucos negócios na Europa com crescimentos de dois dígitos), estimulando os investidores a apresentar propostas: “O grande desafio não é a disponibilidade de ter dinheiro; é ter projectos. Os bons projectos atraem capital e são bancáveis, seja no contexto da lusofonia ou noutro. A TAAG transporta, por exemplo, 25 toneladas do Brasil para a África do Sul todos os dias. E há oportunidades em Angola; porque não produzir em Angola e distribuir via Angola?”.
Enquanto responsável da companhia aérea de Angola, insiste que “há dinheiro em Angola e estamos em Angola, nós TAAG, as entidades governamentais, os responsáveis do novo aeroporto, como actores para ajudar nesse processo. Desafiem-nos a ajudar-vos! Estamos na fase de fazer acontecer”. Miguel Carneiro frisa que “é possível toda a panóplia de produtos ser feita em Angola. As oportunidades estão em Angola, as infra-estruturas estão lá”.
Juvenal Coque, diretor-geral da DHL Angola, presente também no painel “Como potenciar esta superestrutura (aeroporto internacional de Luanda)”, anunciou que “a empresa está a terminar protocolos para fazer investimentos e um centro logístico no aeroporto, com capacidade de 20 toneladas/mês para satisfazer a procura”.
“Promover a exportação é um desafio, como empresa multinacional que somos. Em Angola, queremos promover as PME a exportar os seus produtos. Vamos identificar e formar empresas para as capacitar a fazerem exportações. Acreditamos que Angola tem essa capacidade: incentivar a exportação dos pequenos empresários, garantido a DHL a credibilidade e fiabilidade do transporte”.
“Queremos promover as PME a exportar os seus produtos”, afirma Juvenal Coque.
Juvenal Coque considera como áreas mais apetecíveis para a exportação de produtos angolanos a agricultura: “Com este novo aeroporto, podemos exportar flores (que exportamos para o Quénia) e frutos tropicais – temos condições para isso, com empresas como a DHL a colocar aviões ao serviço dessas exportações”.
Para o responsável da DHL Angola é importante “esquecer um pouco o petróleo e olhar para as flores e frutas. E na DHL Angola queremos ter mais tráfego do que a África do Sul”.
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