“Trampolim”, “plataforma” ou “tubo de ensaio” são os termos usados por Alberto Carvalho Neto para descrever a forma como a chinesa Beijing Entreprises Water Group (BEWG) vê o papel de Portugal na expansão internacional da empresa.
Em entrevista, o administrador da unidade portuguesa do grupo, que é cotado na bolsa de Hong Kong, revela a vontade firme de reforçar o investimento em Portugal. Carvalho Neto é também administrador da Be Water, empresa detida pela BEWG Portugal, e que gere quatro contratos de concessões de abastecimento e saneamento de água (em Mafra, Ourém, Valongo e Paredes) e presta serviços operacionais à Águas do Algarve. A entrada no país ocorreu em 2013, com a aquisição da unidade portuguesa da Compagnie General des Eaux à Veolia Environement por cerca de 95 milhões de euros.
“Há um plano de crescimento. A BEWG comprou, está se a estabelecer e a tentar crescer em vários setores”, explica o gestor. O grupo está interessado em setores ligados à infraestrutura a nível nacional desde energias renováveis relacionados com o setor do mar aos processos de dessalinização.
“Acreditamos que com parcerias com empresas nacionais poderá se criar e apoiar um plano de médio a longo prazo para Portugal, com o apoio das universidades, para reduzir o custo da água dessalinizada. É importante que Portugal deixe de depender de Espanha, porque a maior parte dos rios vem de lá”, defende.
Carvalho Neto adianta que a BEWG está em contacto direto com as autarquias, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério do Ambiente para identificar projetos nos quais o grupo chinês poderá investir.
“Neste momento, estamos numa fase em que precisamos que nos indiquem qual é o caminho, pois somos um grupo que quer investir. A vinda do presidente da China e a visita do nosso CEO a Portugal este mês é prova de que a BEWG, através da Be Water, quer continuar a crescer em Portugal”, salienta.
“Esse crescimento pode criar novos postos de trabalho, porque estamos sempre a pensar em Portugal como num trampolim para outros países”, acrescenta.
As únicas filiais do grupo fora da China são as de Portugal e a da Austrália. “Toda a área ligada à Europa, África e América do Sul é tratada por Portugal, não só para a BEWG, mas também para o Grupo Beikong, que é um grupo enorme, está nas 500 [maiores] empresas do mundo”.
Resgate em Mafra
Carvalho Neto salienta que a unidade em Portugal, que tem 450 empregados e fatura cerca de 50 milhões de euros por ano, representa uma gota de água num grupo tão grande, mas a importância estratégica é relevante.
A empresa mantém o interesse em investir em Portugal, mesmo apesar de estar a ser alvo de um processo de arbitragem jurídica com a Câmara Municipal de Mafra sobre uma concessão. O contrato terminava no final de 2024, mas a autarquia anunciou em novembro que decidiu resgatar a concessão a partir do início de 2019, porque considera “inaceitável” o pedido de reequilíbrio económico-financeiro feito pela Be Water e que implica aumentos médios de 30% na tarifa.
Alberto Carvalho Neto defende que o pedido é justificado. “Quando se fala em reequilíbrios ou aumentos, não estamos a falar simplesmente nos custos da empresa. As águas em alta subiram de preço, o preço da energia subiu e nós temos que tentar ir acompanhando a inflação. Muitas vezes o que tentamos pedir anualmente é que haja um reequilíbrio sobre isso. Quando estamos três, quatro ou cinco anos sem o fazer, isso começa a acumular”.
O gestor lamenta que não estejam em curso negociações para resolver o assunto, e acusa o executivo autárquico de estar comprometido por ter prometido a medida desde 2015, como parte de campanha eleitoral.
“O que o grupo entende é que o facto de o município agir assim, especialmente quando ainda faltam cinco anos, é muito desconfortável. Há investimento feito, o grupo quer continuar a investir, a trabalhar, mas cria uma zona de desconforto”, sublinha.
A Be Water espera que o tribunal arbitral chegue a uma decisão nos próximos seis meses, mas entretanto não vai realocar os 96 trabalhadores que tem em Mafra, porque isso seria precipitado e causaria maior instabilidade.
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