Há sempre factos estranhos em qualquer acontecimento, que nos fazem pensar e concluir que as coisas raramente são simples e que há que ter cuidado quando as analisamos.

As eleições recentes não deixam de seguir esta regra. Por exemplo, no Reino Unido Keir Starmer conseguiu a segunda maior vitória dos trabalhistas em número de deputados em mais de 100 anos: com 411, quase dois terços dos deputados, só ficou atrás de Blair em 1997, que elegeu 418. Mas teve a pior vitória em percentagem de votos de que há memória, com apenas 34%. E Starmer viu no seu próprio círculo a sua percentagem de votos cair 19 pontos. É caso para festejar, mas com ginger ale, não com champanhe.

De qualquer forma, não deixa de ser um momento bom para o Reino Unido. A libra está a máximos de um par de anos face ao euro e ao dólar, mas a isto não são estranhos os resultados das eleições europeias e o que significam em facilidade de governação da União, e o debate Biden-Trump, que lançou a confusão no campo democrata e as dúvidas no povo sobre se será melhor ter um presidente que pensa devagar ou outro que foi condenado em tribunal. Pela primeira vez em anos, o Reino Unido parece um oásis de tranquilidade e previsibilidade, face à UE e aos EUA.

Com efeito, França e Alemanha tinham dado sinais de uma viragem perigosa para a extrema-direita, o que fez Macron apostar na convocação de eleições, que deram na primeira volta o Rassemblement National como primeira força política e um partido presidencial reduzido a 20% do eleitorado; na segunda volta a situação mudou, com a vitória da aliança de esquerda e o partido de Macron logo atrás.

Isto após com Macron terem sido criados dois milhões de empregos e seis milhões de empresas e o crescimento económico ser superior à média europeia; não lhe foi perdoada a reforma das pensões, insustentáveis, e o estilo de governação arrogante.

Agora, o desafio à França é ter um governo funcional, mas à partida a divisão favorece Macron. Vai ser como o only time will tell de Mike Oldfield: as únicas palavras são essas, e repetidas.

Nos EUA as coisas estão mais complexas. O debate desastroso do dia 27 fez alguns membros proeminentes do partido democrata quererem que Biden desista, criando uma divisão interna que favorece Trump e pode durar até agosto, à Convenção em Chicago que nomeará o candidato democrata. Para já, a única alternativa viável é Kamala Harris, mas bastará para derrotar Trump? Se o verão vai ser quente, o outono arrisca-se a ser gelado.