Há umas semanas escrevi aqui um artigo sobre a tensão crescente da China com a Europa no setor automóvel dos automóveis elétricos. Hoje, o tema está relacionado, mas tem mais a ver com o caso português da Autoeuropa.

Em 1991, após um acordo entre a Volkswagen e a Ford, Portugal recebeu um dos maiores investimentos estrangeiros de sempre, o que permitiu que oito anos depois, em 1995, tivesse início, em Palmela, a produção de automóveis na fábrica da Autoeuropa.

Ao longo das últimas décadas foram produzidos diferentes modelos na fábrica de Palmela, com uma produção aproximada das 1000 unidades por dia.

O setor automóvel do século XXI é uma nova realidade face ao século XX. Embora a fábrica de Palmela tenha passado por sucessivos processos de modernização, a realidade, e não vale a pena termos ilusões, é que a atual estrutura fabril da Autoeuropa está condenada ao encerramento se não é decidida a transição da combustão para a eletrificação.

Esta mês surgiram boas notícias com o anúncio de que a Autoeuropa “está a ser considerada para receber um carro elétrico”, prevendo-se que a decisão final seja conhecida nos próximos meses.

A atribuição de um novo modelo elétrico para a Autoeuropa, de forma a substituir o novo T-Roc a partir de 2028, é não só a transição que a fábrica precisa, mas é também uma boa notícia para os seus cerca de 4.800 trabalhadores e para a economia portuguesa.

A Autoeuropa não é uma empresa qualquer. Só o ano passado, em 2023, a fábrica de Palmela teve um volume de vendas superior a 3,6 mil milhões de euros. A Autoeuropa representa cerca de 1,5% de toda a riqueza produzida pela economia portuguesa, ou seja, sensivelmente o mesmo valor do que todo o financiamento do Estado à economia em 2023 ou o equivalente a quase todas as remessas dos emigrantes portugueses num ano.

A importância da fábrica de Palmela é reconhecida também pelo peso que tem nas exportações: 4% do total no ano passado. Aliás, é o segundo maior exportador em Portugal, depois da Petrogal. Esperemos que a decisão do modelo elétrico se confirme e que Portugal possa criar condições para atrair maiores investimentos como a Autoeuropa.