Este capítulo do “manual de instruções” fala do som da língua. Das principais diferenças fonéticas, lexicais e gramaticais entre o português europeu e o brasileiro.
Uma das primeiras coisas que chama a atenção de quem compara o português falado em Portugal e no Brasil são as diferenças na pronúncia. No Brasil, as vogais tendem a ser mais abertas e pronunciadas com clareza, enquanto em Portugal, muitas vezes, são mais fechadas ou até elididas. Por exemplo, a palavra “cidade” no português europeu pode soar como “sidad” para os brasileiros, onde o “e” final é praticamente omitido.
Além disso, o “r” em início de palavras é pronunciado de maneira diferente. No Brasil, tem um som semelhante ao “h” inglês, como em “red” (rato), enquanto em Portugal, é um som mais forte e gutural, próximo ao “rr” espanhol.
No vocabulário, encontramos inúmeras palavras que variam significativamente entre as duas variantes do português. Um exemplo clássico é a palavra “ônibus” no Brasil, que corresponde a “autocarro” em Portugal. Da mesma forma, “trem” no Brasil é “comboio” em Portugal, mas serve para designar praticamente tudo se for em Minas Gerais.
Estas variações lexicais não apenas refletem diferentes escolhas linguísticas, mas também apontam para trajetórias históricas e culturais distintas. O uso de termos indígenas é comum no Brasil, influenciado pela vasta presença de povos nativos, enquanto aqui, muitos termos têm origem em outras línguas devido à sua posição geográfica e histórica.
A gramática do português brasileiro também apresenta suas peculiaridades em comparação com o português europeu. Uma diferença notável é o uso dos pronomes. No Brasil, é comum usar “você” em vez de “tu”. Em Portugal, “tu” é amplamente usado, especialmente em contextos informais e familiares.
Outro aspeto gramatical é a colocação dos pronomes átonos. No Brasil, a próclise (uso do pronome antes do verbo) é frequente: “Me empresta um livro?” Já em Portugal, a ênfase é maior na ênclise: “Empresta-me um livro?”
As diferenças entre as duas variantes do português não são meramente linguísticas, mas também culturais e históricas. O português brasileiro, por exemplo, evoluiu em um ambiente de grande mistura étnica e cultural, resultando em uma língua mais flexível e adaptativa. O português europeu, por outro lado, preserva tradições mais antigas e é fortemente influenciado por sua proximidade com outras línguas românicas.
Compreender as variedades do português é mais do que uma questão linguística; é um portal para entender melhor as culturas que falam essa língua. Para aqueles que buscam entender o Brasil, prestar atenção a essas nuances linguísticas é fundamental. Afinal, como me disse um dia Ricardo Boechat “a língua é alma de um povo!