Alexandra Leitão tem-se esforçado pouco para que a sua ambição política passe despercebida. A líder parlamentar do Partido Socialista, tida como braço-direito de Pedro Nuno Santos, não demorou muito tempo a fazer-se à vida. É vê-la em entrevistas ideológicas, em desabafos, em declarações, em confissões, em comentários televisivos ou em soundbytes que marcam a agenda.
Raramente um número dois é tão ativo no campo de jogo. Não há lugar onde Alexandra Leitão não apareça a dar a sua opinião. Já a vimos a falar de uma futura liderança, mas também já a ouvimos numa entrevista à Antena 3 a refletir sobre o modo como o mundo encara o seu excesso de peso. Se a política fosse uma Volta à França, seria como se João Almeida, lugar-tenente de Tadej Pogaçar, decidisse ocupar o espaço do seu chefe de fila e entrasse numa fuga para ser ele a vestir a camisola amarela.
Alexandra Leitão é inteligente, culta, bem preparada. Pode chegar a líder do PS, sem dúvida. Mas se o deseja, se legitimamente o ambiciona, deve refrear um pouco os seus cavalos. Desacelerá-los. Controlar a ansiedade. Porque aqui, como nas aparições de Fátima, o importante não é a verdade, mas aquilo que as pessoas percecionam ser a verdade. Não interessa saber se Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos, mas o que milhões de pessoas acreditam que aconteceu na Cova da Iria. Interessa pouco saber se Alexandra tem ou não uma estratégia de ganho de visibilidade e posicionamento político, mas aquilo que a opinião pública acredita ser a sua intenção.
Está um calor insuportável e chegará não tarda o mês em que tudo ficará em pausa. Não deixa de ser uma boa notícia para ela, um gongo de fim de assalto que a poderá salvar. Um excelente pretexto para respirar fundo e encarar os assaltos que faltam sem ir ao tapete e com isso boicotar a hipótese de disputar um dia o cinto da liderança. A não ser que o seu desejo seja outro, o de criar as condições para um progressivo afastamento de Pedro Nuno Santos, as condições para se assumir como oposição a um secretário-geral que terá previsíveis dificuldades e a vida pouco facilitada.
Talvez Alexandra Leitão imagine que terá de saltar fora em algum momento para não deixar Fernando Medina sozinho nas terras altas da resistência.