É CEO do Taguspark desde 2018. É um cargo de liderança para manter?
A liderança da organização é decidida pelos acionistas, portanto a minha presença enquanto líder depende dos acionistas. A minha preocupação é garantir que o Taguspark está preparado do ponto de vista da estrutura humana e criar uma equipa que assegure a filosofia de gestão e os projetos e a visão de longo prazo. Portanto, temos elementos que estão cá desde a fundação e jovens com 21, 22 ou 23 anos, o que nos permite ter uma abordagem altamente eclética da realidade e estabilidade. A equipa que temos, de 20 pessoas que gerem uma cidade com 16 mil, é substancialmente diferente da que tínhamos há seis anos.
O que é que mudou?
A necessidade de adaptar a equipa a uma cultura de funcionamento com duas grandes exigências: técnica (saber fazer bem) e inteligência emocional (contribuir para a qualidade de vida da equipa). Estas duas características nem sempre convivem na mesma pessoa.
Falou sobre a “visão de longo prazo”. Quais as principais diretrizes dessa visão?
O Taguspark foi pensado pelos pais fundadores como um projeto que visava contribuir para a necessidade de Portugal robustecer a sua economia, nomeadamente a de base científica e tecnológica, na altura da adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE). Foi construído para ser desenvolvido durante várias décadas. Estamos na quarta década, a caminhar para os 40 anos de Taguspark, e ainda muito longe de completar o território. Somos um projeto para 100 anos. Quais são os desafios? Primeiro, garantir que esta Cidade do Conhecimento continua a ser um exemplo de civismo, meritocracia e produção de conhecimento. Segundo, adaptar-se aos tempos. No início, as áreas que elegíamos como prioritárias eram saúde e telecomunicações. Passados mais de 30 anos, são a robótica, Inteligência Artificial (IA), economia marítima e aeroespacial.
E têm margem para ir à procura de empresas dessas áreas? As empresas procuram-vos? Como é que se processa essa entrada para o Taguspark?
É uma boa pergunta. A resposta é simples: a dinâmica socioeconómica promove esses encontros. Nós procuramos e somos procurados. Damos conferências, posicionamo-nos em ecossistemas que consideramos próximos da nossa visão estratégica… É multidimensional e multidirecional. Atualmente, não andamos longe das 200 empresas. Não temos um número certo, porque há criação de empresas dentro das existentes.
Além da robótica, está a criar-se uma espécie de polo mediático e financeiro…
É interessante. Dois dos principais bancos em Portugal, o Millennium bcp e o Novobanco, são residentes no Taguspark. Somos uma cidade de economia diversificada e multidisciplinar, porque além das empresas, temos centros de investigação, uma universidade, uma escola internacional, um museu de arte urbana, um teatro…
A vinda do Novobanco foi a melhor notícia do ano para o Taguspark?
Foi uma excelente notícia por várias razões: a demonstração de que marcas importantes, da linha da frente, estão a escolher a Cidade do Conhecimento para deslocarem os seus funcionários e as suas atividades e a regeneração de um edifício que não era nosso. O edifício pertencia a um fundo de investimento e estava devoluto. Já o tínhamos tentado comprar mais do que uma vez, mas não tínhamos chegado a acordo. O Novobanco já cá estava, mas agora veio construir um edifício e um campus interessantes. Vê-se que se empenhou.
E estão preparados, em termos de todas as infraestruturas, estacionamentos, restaurantes, para receber mais empresas?
Claro que estamos. Nós ainda não atingimos os 50% da nossa capacidade construtiva. O Taguspark é um projeto para 100 anos. As próximas gerações de gestores e diretores têm muito trabalho pela frente à medida que a economia portuguesa se desenvolve. Há espaço para crescer e nós temos esse espaço disponível. Obviamente, estamos enquadrados numa estratégia de um território mais alargado, a Região Metropolitana de Lisboa, de um país e da Europa. Vivemos tempos de alguma incerteza sobre a economia mundial. Assistimos a uma transferência dos centros de poder económico para leste, nomeadamente para a China. Como não somos um ator isolado, dependemos também de todas as circunstâncias à nossa volta e que nos condicionam.
Prepadados para mais empresas? Claro que estamos. Nós ainda não atingimos os 50% da nossa capacidade construtiva. O Taguspark é um projeto para 100 anos.
Há também uma incubadora. Neste momento têm quantas empresas incubadas?
Ronda sempre as 30. Temos um programa que facilita a manutenção das empresas que crescem na nossa incubadora no pós-incubação. A relação que temos de proximidade com Instituto Superior Técnico [IST], que tem campus no Taguspark, ajuda-nos a promover ciência ativa e transferência de conhecimento das universidades para as empresas. Fala-se em Lisboa como uma Fábrica de Unicórnios… Isso não existe. É uma fraude comunicacional. A fábrica de unicórnios que existe em Portugal está no Taguspark. Precisamente desta relação entre o IST e o Taguspark, saíram daqui dois jovens que transformaram a sua tese de mestrado na Talkdesk. Tornou-se um unicórnio, o que é algo muito difícil, sério e demora tempo.
A Fábrica dos Unicórnios de Lisboa é um nome institucional…
Sim, mas é uma fraude comunicacional. É a mesma coisa que um presidente de câmara se autointitular Super Homem ou Iron Man ou algo desse género. Não existe fábrica dos unicórnios. Eu – não enquanto gestor, mas sim agente político -considero preocupante assistir a responsáveis políticos que não hesitam em faltar à verdade. Neste caso, estamos a falar do presidente da Câmara da capital. Obrigaria a uma honestidade comunicacional… Usando uma expressão da entrevista do ex-primeiro-ministro António Costa [na terça-feira ao canal Now], regemo-nos, certamente, por padrões diferentes. Eu seria incapaz de dizer que aqui há uma fábrica reatores nucleares ou uma fábrica de IA, quando até tenho cá empresas que fazem IA. Não há nenhum unicórnio em Lisboa nem sequer startups com programas sérios naquilo a que chamam a fábrica dos unicórnios.
Não acha que deveria existir uma maior unidade nacional, mesmo entre os municípios, para promover o empreendedorismo no país?
Essa pergunta é million dollar question, como se costuma dizer. É acertar na mouche do problema da economia portuguesa. A economia portuguesa não tem uma estratégia. Não somos uma equipa económica, porque não há coesão. Portugal não definiu o que quer ser quando for grande, portanto, quando o país em si não tem um desígnio económico bem definido, fica mais difícil às entidades e às organizações promoverem esse desenvolvimento em união, sintonia, parceria, complementaridade. E sim, eu sou um apologista, um acérrimo defensor, dessa lógica. Nós não fazemos nada sozinhos.
Portugal não definiu o que quer ser quando for grande, portanto, quando o país em si não tem um desígnio económico bem definido, fica mais difícil às entidades e às organizações promoverem esse desenvolvimento em união
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